Invocar a esperança de Deus!

Dom Manoel Delson Pedreira da Cruz, arcebispo metropolitano da Paraíba

A Misericórdia de Deus é o supremo estandarte de Sua bondade. Sem ela nada podemos fazer! A experiência com a Misericórdia de Deus “batiza-nos” na confiança, colocando diante dos nossos olhos aquela antiga e tão nova mensagem de que Deus nunca desiste de seus filhos. O amor de Deus é sempre bom, eterno e dura para sempre, como canta o salmo 107. Agora, essa misericórdia que a recebemos no dia do Batismo, não nos torna somente como os únicos beneficiários dela, mas nos convida a sermos canais da misericórdia para os outros. A bondade do Senhor nos coloca na missão de levar essa misericórdia, que torna cada homem e mulher especiais, a todos os lugares e situações do mundo.  

A misericórdia do Senhor vem acompanhada da esperança. Porque quando olhamos para nossa vida, provavelmente, podemos considerar que Deus não tenha muita paciência conosco. Mas “Tudo, dentro e fora de nós, invoca a esperança e busca, mesmo sem perceber, a proximidade de Deus” (Papa Francisco). Todos nós, um dia e debaixo da Luz da Verdade, haveremos de comparecer diante do julgamento de Deus. Contudo, não devemos ter medo. Cristo, a manifestação da bondade de Deus, caminha conosco e nos indica o caminho da verdadeira vida. Não devemos temer! A vida cristã é guiada pela Justiça e Misericórdia de Deus, não podemos desvincular nossas atitudes fora desses dois atributos divinos. Justiça e Verdade formam o discípulo de Jesus já aqui nesta vida. O que vai contar no anoitecer de nossas vidas quando fecharmos definitivamente nossos olhos aqui? Será a Luz da Verdade e da Misericórdia de Nosso Senhor que irá nos julgar. Em tudo, seremos vencidos pelas sua Bondade; até mesmos as nossas virtudes só serão contadas porque Ele é o Verdadeiro Bondoso de nossas vidas. Não há bondade humana sem o apoio imediato da graça de Deus! Deus nos amou por primeiro. Não há boa conduta humana fora desse amor divino que se antecipou. 

O que nos compete diante de tanta Bondade e Misericórdia? O Senhor não se cansa de colocar diante dos seus olhos o nosso coração de pecador. O que nos compete é corresponder com esse amor tão bondoso. Corresponder com uma vida o mais possível justa e santa. Uma das atitudes mais feias que podemos ter é a ingratidão. É inadmissível e escandaloso constatar ingratidão ante o Amor Bondoso de Deus. Contudo, Deus não para diante de nossas ingratidões, mas continua a Se dá, derramando-Se, generosamente, em Misericórdia sobre a vida inteira dos homens. Não buscar a santidade de vida aqui nesse contexto significa escolher o caminho da ingratidão. Significa virar as costas para o amor de Deus!

O cristão comprometido com o Evangelho de Cristo não se assusta diante de nada. Sabe que a vida cristã desenvolve-se nos altos e baixos. O crente sabe que tudo está nas mãos de Deus; ainda que o mal faça bastante barulho, ele não tem o poder de dar a última palavra sobre nossas vidas. É Cristo, o vencedor do pecado e da morte, que oferece o verdadeiro destino da vida humana. E esse destino não consiste em depositar nossa confiança nas coisas que passam, mas somente e a partir de Deus.

Não desistamos de invocar a esperança e a misericórdia de Deus sobre este mundo que ele tanta ama. Acolhe efetivamente a Misericórdia de Deus quem acolhe o amor de Deus, e é neste amor que poderemos oferecer ao mundo algo novo. Neste domingo, a Igreja celebra o dia mundial dos avós e das pessoas idosas. Os anciãos expressam continuamente o testemunho da bondade diante dos mais novos. Não nos cansemos de cuidar daqueles que muito cuidaram quando éramos pequenos e vulneráveis. Os avós são a manifestação da bondade de Deus no meio de nós!

Coloquemo-nos sempre debaixo do olhar bondoso da Virgem Maria, para que o nosso empenho cristão leve sempre Jesus ao mundo, aos homens e mulheres deste tempo. Que a sua materna intercessão nos ajude a entrar na fila da Misericórdia que atravessa a história e o tempo dos homens. Que sejamos sinais vivos de bondade e misericórdia a tantos quantos necessitam mais uma vez enxergar o rosto amoroso do Pai.