A experiência com a Misericórdia de Deus “batiza-nos” na confiança, colocando diante dos nossos olhos aquela antiga e tão nova mensagem afirmada ultimamente pelo Papa Francisco: “Deus não deixa ninguém para trás”. “Nós valemos mais que os pássaros”, como afirma o Evangelho deste domingo. “O amor de Deus é sempre bom, eterno e dura para sempre”, como canta o salmo 107. Agora, essa misericórdia que recebemos no dia do Batismo não nos torna somente como os únicos beneficiários dela, mas nos convida a sermos misericórdia para os outros. A bondade do Senhor nos coloca na missão de levar essa misericórdia, que torna cada homem e mulher especiais, a todos os rincões do mundo.
Todos nós, um dia e debaixo da Luz da Verdade, haveremos de comparecer diante do Tribunal de Cristo. Contudo, não devemos ter medo. Cristo, a manifestação da bondade de Deus, caminha conosco e nos indica o caminho da verdadeira vida. Não devemos temer! A vida cristã é guiada pela Justiça e Misericórdia de Deus, não podemos desvincular nossas atitudes fora desses dois atributos divinos. Justiça e Verdade formam o discípulo de Jesus já aqui nesta vida. O que vai contar no anoitecer de nossas vidas quando fecharmos definitivamente nossos olhos aqui? Será a Luz da Verdade e da Misericórdia de Nosso Senhor. Em tudo, seremos vencidos pela sua Bondade; até mesmo as nossas virtudes só serão contadas porque Ele é o Verdadeiro Virtuoso. Não há bondade humana sem o apoio exclusivo da graça de Deus! Deus nos amou por primeiro. Não há boa conduta humana fora desse amor divino que se antecipou.
O que nos compete diante de tanta Bondade e Misericórdia? Como canta o salmo da Missa deste domingo, “o Senhor não se cansa de colocar os seus olhos amorosos sobre nós”. O que nos compete é corresponder com esse amor tão protetor. Corresponder com uma vida o mais possível justa e santa. Uma das atitudes mais feias que podemos ter é a ingratidão. É inadmissível e escandaloso constatar ingratidão ante o Amor Bondoso de Deus. Contudo, Deus não para diante de nossas ingratidões, mas continua a Se dá, derramando-Se generosamente em Misericórdia sobre a carne dos homens. Não buscar a santidade de vida aqui nesse contexto significa escolher o caminho da ingratidão.
Acolhe efetivamente a Misericórdia de Deus quem acolhe o amor de Deus, e é neste amor que poderemos oferecer ao mundo algo novo. Estamos cansados dos transbordamentos de palavras desacompanhadas de testemunho. O cristão que renova suas atitudes no amor de Deus sabe que o mundo, ainda que silenciosamente, pode ser transformado. Não podemos viver como se o mundo estivesse caindo num grande abismo sem volta. Aqui não se trata de uma ingenuidade distraída. Não! O que acontece é que sabemos que o amor de Cristo pode mudar tudo, inclusive, o nosso coração de pedra e sem vida.
O cristão comprometido com o Evangelho de Cristo não se assusta diante de nada. Sabe que a vida cristã desenvolve-se nos altos e baixos. O crente sabe que tudo está nas mãos de Deus; ainda que o mal faça bastante barulho, ele não tem o poder de dar a última palavra sobre nossas vidas. É Cristo, o vencedor do pecado e da morte, que oferece o verdadeiro destino da vida humana. E esse destino não consiste em depositar nossa confiança nas coisas mundanas, mas somente e a partir de Deus. “Nós valemos mais que os pássaros”, como canta poeticamente o Evangelho deste domingo.
Coloquemo-nos sempre debaixo do olhar bondoso da Virgem Maria, para que o nosso empenho cristão leve sempre Jesus ao mundo, aos homens e mulheres deste tempo. Que a sua materna intercessão nos ajude a entrar na fila do ofertório da Misericórdia que atravessa a história e o tempo dos homens. Que sejamos sinais de bondade e misericórdia a tantos quantos necessitam mais uma vez enxergar o rosto de amor, justiça e misericórdia de Deus!