“Deus nos dá uma outra moradia no céu que não é obra de mãos humanas, mas que é eterna” (II Cor 5,1). Esta é uma afirmação bíblica que perpassa o conteúdo da fé cristã. Somos chamados pela Igreja a caminhar no tempo e na história movidos por essa afirmação. Acreditamos que há uma esperança que nos acompanha, capaz de lançar nosso coração para o alto, para Deus e sua morada.
As grandes tribulações que enfrentamos no percurso da existência humana só podem ser vencidas porque nos dispomos a permanecer na esperança cristã. “A esperança precisa de paciência, assim como precisa ter esperança para ver crescer a semente de mostarda. É a paciência de saber que nós semeamos, mas é Deus que faz crescer” (Papa Francisco). E como preservar quando a dor da morte bate à nossa porta? Como prosseguir quando perdemos quem amamos? Tais questionamentos têm se tornado frequentes e persistentes ao longo desta pandemia que há meses se prolonga.
Como cristãos, cheios da esperança de Cristo, não podemos viver nossos dias permitindo o prolongamento de fardos de frustações e fobias. Afinal, o Batismo que recebemos um dia nos coloca diante de tão desafiante exigência de fé: “Quem crê nunca está sozinho, nem na vida e nem na morte” (Papa Emérito Bento XVI).
A certeza da fé na vida eterna nos coloca de pé, ainda que sejamos tentados à queda, ao desanimo existencial. A humanidade tem chorado a partida precoce de tantos irmãos devido à COVID-19. É claro que devemos chorar e sentir saudades de quem nos era próximo e que Deus chamou para junto de Si. Mas o nosso choro de saudade não pode apagar a chama da fé na vida eterna. Devemos abraçar nossa existência sobre a terra como um breve instante oferecido pelo Bondoso Pai do céu. E quando chegar o momento final de nosso último suspiro, os nossos lábios estejam capazes de fazer uma breve e simples oração: “Senhor, prepara meu coração para morrer bem, para morrer em paz, para morrer com esperança” (Papa Francisco).
Construamos nossa vida com o olhar voltado para Deus, para sua morada que não foi construída por mãos humanas. O Senhor nosso Deus é Bondoso e nos convida a estar com Ele definitivamente em sua casa. Mas para que isso se cumpra, faz-se necessário o crescimento da fé Nele. Essa fé não nos tira dos altos e baixos da vida, mas nos dá força para suportar todas as provas e dificuldades. Peçamos à Virgem Maria, que suportou grandes provas, que nos ajude a permanecer com o coração em Deus e que Ela nos proteja debaixo de seu manto.
Dom Frei Manoel Delson
Arcebispo da Paraíba