Padre Xavier Paolillo, missionário comboniano
José é um jovem tímido e de poucas palavras. Sonha como qualquer pessoa de sua idade. Faz planos, elabora projetos e imagina cenários. Está focado na construção de seu futuro ao lado de Maria. Aguarda com ânsia o momento de morar definitivamente com ela e constituir uma nova família. Mas um imprevisto faz desmoronar tudo. Antes de morarem juntos, Maria fica grávida. José se desespera. Sente-se traído. Qualquer jovem apaixonado fica sem chão ao saber que a noiva está grávida de outro. Mesmo ferido, não deixa espaço para a vingança. Ama tanto Maria que não deseja causar-lhe mal algum. Decide licenciá-la em segredo para não denunciá-la publicamente conforme as regras daquele tempo. Apesar de sua jovem idade, não age por impulso. Faz uma escolha decisiva. Entre a lei e o amor, escolhe o amor que não é o oposto da lei, mas a sua plenitude. “Inclina-se diante do sagrado mistério da pessoa, não da formalidade do código penal, É infiel à letra para ser fiel ao espírito” (Ermes Ronchi). José coloca a pessoa acima de qualquer regra e, sobretudo, não deixa o orgulho ferido falar mais alto. Sua prática ensina-nos a usar nossa liberdade para proteger e atiçar o fogo do amor e não para adorar as cinzas do legalismo e do tradicionalismo (G. Mahler). Trata-se de uma escolha difícil e desafiadora que influenciará Jesus quando violará a Lei do sábado para curar o ser humano, pois aprendeu do Pai Celeste e do pai adotivo que “colocar a lei antes da pessoa é a essência da blasfêmia” (Simone Weil).
José passa a ter noites insones e mal dormidas. Não se conforma. Mas quando tem amor de verdade, o coração deixa sempre uma porta aberta. E é por ela que entra Deus. A “transgressão” à lei humana para obedecer ao divino mandamento do amor é a prova que O convence sempre quando se trata de escolher os seus colaboradores. O coração palpitante de amor é a brecha por onde Ele gosta de entrar e agir. Aos Seus olhos José é justo de verdade, pois desiste do “amor-próprio” para o bem e a felicidade de Maria. Está apto para ser Seu parceiro de uma história que tem como objetivo instaurar Seu Reino e Sua justiça que é justamente o exercício da misericórdia e do amor. Seu primeiro ato é pronunciar uma palavra de coragem: “Não tenha medo, José!. Não foi a um homem que Maria se entregou, mas a Deus. O Filho que carrega no ventre foi concebido pelo Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos seus pecados”. O que aconteceu não é uma triste história de traição, mas a realização de uma promessa. Não é um ato de infidelidade humana, mas a prova irrefutável de fidelidade de Deus. Não representa o fim de uma relação, mas o início de uma história de amor entre Deus e a humanidade que perpassa o casal e envolve a humanidade toda. Deus convida José a participar desse sonho. O Criador tem uma palavra dada e, para cumpri-la, precisa de ajuda. A Sua é uma Palavra de amor que só acontece com pessoas que amam e num lar onde o amor é de casa.
É isso que Deus encontra naquela humilde casa de Nazaré. Maria e José podem não ter nada, mas são ricos de amor. Isso basta a Deus para colocar em ação seu plano. José aceita o desafio. A exemplo de Maria, também José diz seu “sim” a Deus. Desiste de seus sonhos para compartilhar o sonho de Deus. A partir daquele momento faz tudo aquilo que Deus lhe diz de fazer. Não é um simples boneco, mas é um protagonista. Amar é uma necessidade que liberta, cuida, eleva, deixa ir, emancipa e dignifica a vida. Exige coragem, entrega, fidelidade e ação. Não basta dizer “eu te amo”. O amor tem de ser demonstrado através de gestos, atitudes e comportamentos. Deve se tornar amabilidade. É isso que acontece com José. Ao decidir de amar Maria, faz de tudo para mostrar seu amor para com ela e com o menino Jesus. Será ele a tomar a iniciativa de arranjar um lugar em Belém para o parto de Maria, de organizar a fuga para o Egito para salvar a criança das garras homicidas de Herodes, de voltar para Nazaré e de participar ativamente à educação do filho por bem 30 anos. Sua presença na vida de Jesus será decisiva para que Ele cresça não só em tamanho, mas também em sabedoria e graça diante de Deus e dos homens. O amor que habita seu coração desde sempre, tornou-se a melhor oficina para que o Filho se tornasse um artesão do amor.
Vem, Senhor Jesus.
Vivemos um pesadelo. Como José, também nós nos sentimos traídos e abandonados. A vontade de abandonar tudo é muito grande. Não permita que nos deixemos arrastar pela correnteza do pessimismo e da desesperança. Reanima a nossa vontade de sonhar contigo e a coragem de acordar para a vida para realizar o Teu sonho. Juntos podemos. Como diz o famoso ditado: “Se um sonha sozinho, é só um sonho. Se sonharmos juntos, com os outros e contigo, a chance do sonho se tornar realidade é garantida.