“O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu” (Is 9, 1). O que estamos a celebrar? Como pode um evento tão pobre e humilde, acontecido há tanto tempo e longe de nós, em Belém, ainda impactar nossos dias? O Natal insere-nos no grande Mistério da Encarnação de Nosso Senhor, o próprio Deus veio nos visitar (Cf. Jo 1,14). Deus fez-se um de nós! Fez-se a luz! O Natal celebra o amor incontido de Deus pela humanidade e fala-nos da “revanche da humildade sobre a arrogância” (Papa Francisco). O Deus do alto dos céus saiu de seu esconderijo e veio habitar na casa dos homens.
Naquela Manjedoura de Belém, Deus deixou-Se ser tocado. As mãos de São José e da Santíssima Virgem Maria tocaram Deus. Contudo, esse toque humano não é um ato de fechamento. A atitude dos pais do Menino que é Deus apresenta-nos uma exigência evangélica que muito tem a nos ensinar: o amor não se fecha, ele sempre se dá! Sim! A família de Jesus ensina-nos a nada reter. Ali, na pobreza do presépio, Nossa Senhora não prende o Menino a si, como uma mãe superprotetora, mas oferece o seu Menino como presente ao mundo.
A mensagem natalina sempre nos impactará, pois tal evento causa as verdadeiras mudanças no nosso interior. O Natal é uma grande oportunidade de conversão: nossas grandezas podem tornar-se lugares de acolhida do pequeno, do pobre; o exagero da programação de vida, imposto pela modernidade, pode dar lugar aos espaços de doação, onde não buscaremos mais viver para si, mas para Deus e para os pobres.
O mistério da nossa salvação une vida e morte: o Menino de Belém que caminha a nossa frente e nos toma pela mão é o mesmo que dá a Vida numa cruz e que ressuscita, vencendo as nossas mortes. A luz Dele enche o mundo e suas dores da alegria de Deus. O caminho da vida exige uma adesão existencial com Jesus. Não se pode pretender um caminho que não seja o caminho de Senhor. Levamos sobre os nossos ombros aquele que é o próprio caminho, aquele que faz resplandecer a vida e a luz entre os homens. Sua luz brilha nas trevas do egoísmo, das guerras e das ideologias. Tudo isso é muito forte e para além de nossos bons propósitos, e por isso necessitamos contar com a oração daquela que perfeitamente levou Cristo sobre si: a Virgem Maria, a portadora de todas as graças de Deus. O Sim dela carrega a força do Salvador que se tornou a grande Luz.
Um Menino nos foi dado! Deus pode ser tocado por nossas mãos. Fomos presenteados por tão alta dádiva. A desesperança dá lugar ao entusiasmo e ao sabor pela vida, o medo torna-se alegria. Não percamos tempo, abramos nosso coração para o outro, sejamos manjedoura para os nossos irmãos. Deus quer nascer em nós, e esse nascimento é solidário, sempre nos porá a serviço dos irmãos, dos desesperados e dos que já perderam a fé. O Natal chegou e chegou para todos nós! Sejamos simples e amantes da Verdade que brilha a partir do Deus que tomou a forma de um Menino. Em tempos tão conturbados, sejamos sinais de esperança e amor concreto.
Que nossas famílias sejam tocadas pelo Menino que é Deus e que nos chama ao entusiasmo de uma vida marcada pelo verdadeiro sentido. Natal é a festa que nunca perde seu encanto, afinal, ela celebra o Deus que ama a humanidade e que vem ao nosso encontro. Um Santo Natal a todos!
Dom Frei Manoel Delson
Arcebispo da Paraíba