É assim que o definem todos aqueles que estudam seus escritos para compilar sua biografia. São Daniel Comboni, cuja memória é celebrada hoje pela Igreja Católica, foge a todos os esquemas que tentam enquadrá-lo. À jornalista Stefania Falasca, em 2003, na revista 30 Dias, sobre a figura de Comboni, que acabara de ser canonizado, escreveu, citando Jean Guitton, que: “Homens como ele são contemporâneos do futuro”. Sim, porque verdadeiramente: “São Daniel Comboni, 1º Apóstolo da África, pertence àquela multidão de grandes almas que nunca deixarão de perturbar e envolver, desarmar e fascinar”. “Ilimitadamente fiel à Igreja” foi também “ilimitadamente livre”. Dotado de um temperamento forte e, ao mesmo tempo, muito humano, perseguiu com obstinação suas intuições sem cair na tentação da autoreferencialidade. No mistério do Coração de Jesus, encontrou o impulso para o seu zelo missionário. Tudo fazia por amor a Deus, à Igreja e aos povos da infeliz África, devastada pela colonização e duramente afetada pelo comércio de escravos. Encarou autoridades civis e religiosas para levar para frente sua paixão pela África. Sabia ser diplomático, mas não media as palavras quando se tratava de compartilhar e defender seu plano missionário. Sofreu duras críticas, calúnias e perseguições, mas nada disso o desmoronou. Encarou os sofrimentos com uma fé sólida que se inspirava no coração transpassado de Cristo Bom Pastor. Além de ser um generoso missionário, foi um profeta para o seu tempo.
Comboni nasceu no dia 15 de março de 1831, duma família de camponeses ao serviço de um rico senhor local. O pai e a mãe eram afeiçoadíssimos a Daniel, o quarto de oito filhos falecidos quase todos em tenra idade. Eles formavam uma família unida, rica de fé e de valores humanos, mas pobre de meios económicos. Por causa da pobreza, Comboni foi obrigado a sair de casa para frequentar a escola em Verona, no Instituto fundado pelo sacerdote Pe. Nicola Mazza. Nestes anos passados em Verona, Daniel descobriu a sua vocação ao sacerdócio, completou os estudos de filosofia e teologia e, sobretudo, abriu-se à missão da África Central, fascinado pelo testemunho dos primeiros missionários mazzianos que regressavam do continente africano. Em 1854 Daniel Comboni foi ordenado sacerdote e três anos depois partiu para a África juntamente com outros cinco missionários do Instituto Mazza.
Após quatro meses de viagem, a expedição missionária de que Comboni fazia parte chegou a Khartum, capital do Sudão. O impacto com a realidade africana foi duro. Daniel se deu imediatamente conta das dificuldades que comportava a sua nova missão. O cansaço, o clima insuportável, as doenças, a morte de numerosos e jovens companheiros, a pobreza, o comércio dos escravos e o abandono do povo o impeliam cada vez mais a seguir em frente e a não abandonar a missão iniciada com tanto entusiasmo.
Ao assistir à morte em África dum seu jovem companheiro missionário, Comboni em vez de desanimar sentiu-se interiormente confirmado na decisão de continuar a sua missão: «Ou a África ou a morte».
Em 1864, recolhido em oração junto ao túmulo de São Pedro em Roma, Daniel teve uma iluminação fulgurante que o levou a elaborar o seu famoso Plano para a regeneração da África, um projeto missionário que se pode sintetizar numa intuição, «Salvar a África com a África». A partir da sua ilimitada confiança nas capacidades humanas e religiosas dos povos daquele continente, encontrou no incentivo ao protagonismo dos africanos, sobretudo das mulheres, a melhor força para promover a evangelização do continente e o desenvolvimento econômico e social de suas populações.
No meio de dificuldades e incompreensões não indiferentes, Daniel Comboni teve a intuição de que a sociedade europeia e a Igreja católica eram chamadas a tomar em maior consideração a missão da África Central. Com este objetivo dedicou-se a uma incansável animação missionária em todos os recantos da Europa, pedindo ajudas espirituais e materiais para as missões africanas. Como instrumento de animação missionaria criou uma revista missionária, a primeira em Itália, totalmente dedicada ao continente africano.
A sua fé inquebrantável no Senhor e na África levou-o a fundar em 1867 e 1872, respectivamente, os seus Institutos missionários, masculino e feminino, posteriormente conhecidos como Missionários Combonianos e Irmãs Missionárias Combonianas.
Como teólogo do Bispo de Verona, participou no Concílio Vaticano I, levando 70 Bispos a subscreverem uma petição em favor da evangelização da África.
Aos 2 de Julho de 1877, Comboni foi nomeado Vigário Apostólico da África Central e consagrado Bispo um mês mais tarde: foi a confirmação de que as suas ideias e as suas ações, por muitos consideradas demasiado arrojadas ou até paranoicas, eram extremamente eficazes para o anúncio do Evangelho e para a libertação do continente africano.
Nos anos de 1877-1880 sofreu no corpo e no espírito, juntamente com os seus missionários e missionárias, a tragédia duma estiagem e carestia sem precedentes que dizimavam a população local e abalavam o pessoal e a atividade missionária.
No dia 10 de Outubro de 1881, com apenas 50 anos de idade, marcado pela cruz que, qual esposa fiel e amada, nunca o abandonou, morreu em Khartum no meio da sua gente, consciente de que a obra missionária não morreria. «Eu morro, mas a minha obra não morrerá».
Daniel Comboni tinha visto bem. A sua obra não morreu; pelo contrário, como todas as grandes obras que «nascem e crescem aos pés da cruz», continua viva graças à doação da vida de tantos homens e mulheres que escolheram seguir Comboni no caminho da árdua e entusiasmante missão entre os povos mais necessitados na fé e mais abandonados pela solidariedade humana.
No Brasil os missionários combonianos estão presentes há mais de 70 anos. Seguindo os passos de São Daniel Comboni continuam anunciando o Evangelho marcando presença, sobretudo entre os mais pobres. Em comunhão com a Igreja no Brasil, contribuem com a realização do sonho de Deus que deseja vida em plenitude para todos e todas. Na Arquidiocese da Paraíba, os combonianos são responsáveis pelo cuidado pastoral da Paróquia Santo Antônio de Maros Moura em Santa Rita. onde desenvolvem também várias atividades de promoção humana.
O zelo apostólico de São Daniel Comboni fortateça o espírito missionário das nossas comundiades e sua paixão para com os povos da África alimente nosso amor para com o povo brasileiro, sobretudo com os descendentes dos africanos que foram trazidos ao Brasil à força como escravos. São Daniel Comboni, à luz da prática de Jesus de Nazaré e pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, nos ajude a lutar pela redenção e libertação dos oprimidos. Para saber mais a respeito de São Daniel Comboni e dos Combonianos visite o site: combonianos.org.br. (pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)
Pe. Xavier.