A festa da Penha é uma das mais tradicionais festas culturais religiosas do estado da Paraíba. Uma grande manifestação da religiosidade popular, que, no Nordeste, ainda é muito forte e ativa. Este ano a festa completou 259 anos. Comemorada com uma novena, que são celebrações, como o próprio nome já diz, com duração de nove noites. No dia da abertura da festa, aconteceram o hasteamento da bandeira e uma procissão da santinha da entrada do bairro até o Santuário da Penha. Cada uma das nove noites de festa tem um tema específico, que faz uma ligação com o tema central da festa, que é escolhido de acordo com a Campanha da Fraternidade do ano; cada uma dessas noites tem um pregador próprio, que vai refletir com a comunidade sobre o tema determinado.
No sábado, a imagem de Nossa Senhora da Penha foi conduzida em carreata até a Igreja de Nossa Senhora Lourdes, onde, na chegada, foi rezada a oração do terço e, às 20h, foi celebrada uma Missa em ação de graças começando os preparativos para a Romaria da Penha.
A caminhada da Penha, como é conhecida a Romaria da Penha em João Pessoa na Paraíba, é considerado um dos maiores eventos religiosos do nordeste. São mais de quatorze quilômetros de caminhada. Animados por vários trios elétricos, os romeiros vão cantando louvores a Deus, rezando e entoando suas jaculatórias, fazendo suas preces e agradecimentos pelas graças alcançadas. São diversas as manifestações de fé. Pessoas carregando objetos, de cadeiras de rodas, caminhando de pés descalços, mulheres grávidas, famílias carregando réplicas de casas, pessoas que levam cópias de exames médicos, muletas, carteiras de trabalho, ex-votos de todas as formas e modelos, pessoas de todas as idades, desde bebês de seis meses que são levados pelos pais, aos idosos acima dos 80 anos que, com o seu exemplo, fazem com que a família inteira faça a caminhada.
Na santinha da Av. Pedro II, um dos pontos de muita aglomeração, acontecem orações e preces de muita gente. Ali, durante todo o ano, as pessoas se encontram para rezar o terço, para fazer os seus pedidos, os seus agradecimentos; mas, essa noite é especial, existe uma multidão tentando tocar no vidro que envolve a imagem ou ao menos passar mais perto do local onde ela está posta. No viaduto da BR 230, mais uma tradição da romaria. Nesse local, um grupo de romeiros solta um terço de balões e pétalas de rosas são derramadas nas pessoas que vão caminhando. No bairro Bancários, uma projeção da imagem de Nossa Senhora é feita em um dos prédios da avenida principal. A imagem estampada no edifício chama atenção de todos que caminham. No bairro do Quadra Mares, um comerciante faz uma grande queima de fogos durante a passagem do carro andor. Isso tudo emociona cada fiel que caminha na romaria.
Durante o trajeto, existem aqueles que já alcançaram as suas graças e passam a noite inteira doando água ou frutas para os caminhantes, num gesto de amor ao próximo. Há aqueles que nunca caminharam, que estão ali pela primeira vez; a emoção e a alegria transbordam dos seus olhos lacrimejados; tem também aqueles que já caminham faz tempo, acostumados a tantas romarias, mas se sentem como se estivessem ali pela primeira vez, a cada oração, a cada canto, a cada grito de viva, revigoram suas forças e seguem em frente rumo ao Santuário da Penha.
Por volta da meia noite, os primeiros romeiros começam a chegar no bairro da Penha, uma fila começa a se formar na frente da capelinha, todos querem agradecer. O local onde a imagem fica durante o ano inteiro está vazio, pois ela está vindo no carro andor, cercada por milhares de pessoas. No salão de celebração e no entorno do santuário, os romeiros são animados por um ministério de música que, desde as onze horas da noite, canta louvores a Deus, acolhendo os devotos de Nossa Senhora que chegam desde muito cedo na igreja.
Pontualmente às três da manhã, quando a imagem trazendo uma multidão chega na entrada do bairro da Penha, o espaço fica repleto de pessoas; na rua que dá acesso ao santuário, o povo vem bem pertinho da imagem de Nossa Senhora; na pequena praça da Penha, quase não se tem espaço para caminhar; no santuário, uma multidão se aperta para entrar na pequena capela; a escadaria fica intransitável com tanta gente subindo e descendo os 148 degraus. No campo, que já está sendo animado por mais um ministério de música desde as duas horas da manhã, o povo se prepara para participar da grande missa.
A imagem entra no campo de futebol do bairro da Penha ao som da ladainha de Nossa Senhora da Penha. Passa no meio do povo, com gritos de viva e as lanternas dos celulares acessas; a multidão saúda a Mãe de Jesus Cristo representada naquela imagem com muita alegria e emoção. Depois que ela é deixada no lugar reservado, inicia-se a grande Missa.
O Arcebispo Metropolitano da Paraíba, Dom Manoel Delson, presidiu a celebração. Em sua homilia, com tom de agradecimento e referências, a caminhada falando sobre o tema da romaria, que este ano foi: “Senhora da Penha, dá-nos sabedoria e amor: Ensina-nos a construir uma Sociedade Justa, Fraterna e de Paz.” Dom Delson animou o povo a refletir sobre a própria caminhada da vida.
Roberval Borba