O contexto social que vivemos está marcado por mensagens de medo. Fato! São muitas as inseguranças que tendem a nos deixar paralisados, são muitos os problemas sociais que afetam a vida do nosso povo e são massacrantes as ideologias que dividem e causam medo. E o que fazer? Como os cristãos devem proceder? Jesus sempre levou os discípulos à compreensão da superação do temor: “Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções não fiqueis apavorados; é preciso que estas coisas sucedam primeiro, mas não será logo o fim” (Lc 21, 9). Esta passagem do Evangelho não se propõe a plantar o terror, ainda que seja uma advertência sobre os últimos dias que precederão o Juízo Final. Nosso Senhor quer plantar a esperança, o Seu Juízo sobre os homens não é reforço de maldade e terror, mas chamada à conversão, à fidelidade ao Evangelho com firmeza nesta vida que temos e ao testemunho rigoroso da caridade entre os homens.
O verdadeiro cristão não se aposenta no receio do futuro, mesmo quando ele cause muitos temores, mas confia no Senhor que venceu todos os medos. O trabalho, direito de todos, deve ser um lugar de construção do mundo novo, aonde o modelo de desenvolvimento econômico global seja o mais justo possível. Para que todos tenham direito a uma vida digna, é preciso que haja uma séria avaliação da desigualdade social com o objetivo claro de amparar os mais necessitados, acabando com a fome e o desespero, que são situação ultrajantes e inadmissíveis em um país tão rico como o nosso. Com este diagnóstico, é preciso que haja a distribuição de renda, o favorecimento de oportunidades, um crescimento econômico não excludente e participativo. O que a sociedade precisa, com urgência, é de menos corrupção, de uma economia mais justa e partilhada e de reais condições de trabalho para todos. As sociedades precisam caminhar cada vez mais para um capitalismo inclusivo, como nos pede o Papa Francisco: “Um capitalismo inclusivo, que não deixa ninguém para trás, que não descarta nenhum dos nossos irmãos e irmãs, é uma nobre aspiração, digna de seus melhores esforços”.
Ainda nos valendo das palavras do Santo Padre, ele expõe ao mundo caminhos que acredita serem os ideais para um mundo mais justo e igualitário. Diz Francisco na sua encíclica Fratelli Tutti (todos irmãos): “Cremos que só é possível pensar em desenvolvimento aliado ao cuidado da criação, com a participação dos empobrecidos nos processos de construção das políticas sociais e econômicas. Cremos, assim, no desenvolvimento humano integral como princípio fundamental das mudanças estruturais necessárias, o qual pressupõe a soberania dos povos e a luta nos territórios, e sugere uma economia solidária, fraterna, ecológica e democrática”.
O mundo novo tão sonhado pelas páginas do Evangelho de Nosso Senhor não é uma quimera ingênua de crentes alienados. O trabalho, a fidelidade constante ao Evangelho, a caridade generosa a todos… são meios insubstituíveis para a promoção de sociedades mais justas e fraterna. E como bons cristãos, inseridos no mundo do trabalho e da cultura, não nos isentaremos dessa construção vital para o futuro da humanidade. Pois somos conscientes de que: “É permanecendo firmes que iremos ganhar a vida!” (Cf. Lc 21,19).
Dom Frei Manoel Delson
Arcebispo da Paraíba