Dom Frei Manoel Delson Pedreira da Cruz, OFMCap. Arcebispo da Paraíba
O Evangelho proclamado neste Domingo em todas paróquias relata o acontecimento do encontro de Jesus com o cego Bartimeu. Jesus passa pelas estradas de Jericó. O cego dirige-se a Jesus, dizendo: “Filho de Davi, Jesus, tende piedade de mim!”. Temos aqui uma verdadeira oração que comove o coração de Cristo. Comove a tal ponto que para sua caminhada e manda chamar o cego, curando-o em seguida.
O cego Bartimeu faz a experiência de sentir-se, profundamente, amado pelo Senhor. Esse encontro não é um simples momento de passagem, mas um encontro transformador. O cego é tocado pela comoção do Coração de Cristo. Nesta última semana, o Papa Francisco presenteou-nos com uma nova Encíclica. Um texto muito profundo sobre a reescolha da espiritualidade do Coração de Jesus. O cego Bartimeu é encontrado por esse Coração que se comove.
Aquele cego sofria, antes de tudo, da carência de um encontro pessoal com o Senhor. Ele necessitava ser visitado pela consolação de Deus. Um encontro que pressupôs a liberdade humana. Cristo não a sucumbiu, mas a elevou a partir desse momento de consolação: “o momento decisivo foi o encontro pessoal, direto, entre o Senhor e aquele homem que sofre. Encontram-se um diante do outro: Deus com a sua vontade de curar e o homem com o seu desejo de ser curado. Duas liberdades, duas vontades convergentes: ‘Que queres que Eu te faça?’, pergunta o Senhor. ‘Que eu recupere a vista!’, responde o cego. ‘Vai, a tua fé te salvou’. Com estas palavras realiza-se o milagre. Alegria de Deus, alegria do homem” (Papa Bento XVI). A comoção de Cristo atraiu o ser inteiro do cego Bartimeu.
O final da cena do Evangelho deste Domingo crava a decisão missionária do não mais cego. Bartimeu, vindo à luz de Cristo, toma a decisão de segui-Lo. Esse seguimento é vivo e dar-se na estrada da vida. A fé é um caminho que ilumina os passos do homem de qualquer tempo. Bartimeu foi visitado pela consolação de Deus. Ele não se limita a ficar na beira da estrada pedindo moedas, mas, num gesto de muita confiança, abre-se a Cristo e torna-se seu missionário: “a fé de Bartimeu transparece da sua oração. Não se trata de uma oração tímida, convencional. Antes de tudo, chama ao Senhor ‘Filho de Davi’: ou seja, reconhece-o como Messias, Rei que vem ao mundo. Depois chama-o pelo nome, com confiança: ‘Jesus’. Não tem medo d’Ele, não se distancia. E assim, do coração, grita ao Deus amigo todo o seu drama: ‘Tem piedade de mim’. Apenas aquela oração: ‘Tem piedade de mim’. Não lhe pede algumas moedas, como faz com os transeuntes. Não. Àquele que tudo pode, pede tudo. Às pessoas pede moedas, a Jesus que pode fazer tudo, pede tudo: ‘Tem piedade de mim, tem piedade de tudo o que eu sou’. Não pede uma graça, mas apresenta-se: pede misericórdia para a sua pessoa, para a sua vida. Não é um pedido insignificante, mas é muito bonito, pois invoca a piedade, isto é, a compaixão, a misericórdia de Deus, a sua ternura” (Papa Francisco).
Pedir tudo ao Senhor. Eis a bonita conclusão da mensagem desse Evangelho que narra o encontro luminoso da misericórdia de Deus com a cegueira humana. A luz de Deus entra em todos os espaços. Não há limites! Diante de tempos modernos que se arvoram de ter contemplado tantas descobertas, Cristo continua sendo a verdadeira luz que retira o homem de qualquer lugar escuro e tenebroso. A Igreja, como corpo de Cristo, continua avançando na missão de levar essa luz a todos os homens e mulheres. Como o cego Bartimeu, não podemos nos cansar de pedir tudo ao Senhor. Deus se comove e se alegra com a prece que nasce do nosso coração cansado, mas confiante.
Que Maria Santíssima nos acompanhe pelas estradas do mundo. Que seu caminhar missionário nos faça sair do comodismo de uma igreja ensimesmada nas próprias dores e dificuldades.