Pe. Marcos Antônio, Ocrl
Próximo dia 08 de dezembro celebraremos a Solenidade da Imaculada Conceição de Maria. Profundamente significativo neste Tempo do Advento recordar Maria a Virgem da espera, ela sem mácula nenhuma de pecado desde a sua concepção. Nela contemplamos a ação salvadora de Deus que se concretiza em sua resposta ao chamado que Deus a fez para ser mãe do Verbo que se fez carne em seu seio, assumindo através dela a natureza humana. O Dogma da Imaculada conceição foi definido e proclamado por são Pio IX no dia 08 de dezembro de 1854 com a Carta encíclica Ineffabilis Deus (inefável Deus). Embora esta verdade de fé seja celebrada bem anterior a sua proclamação oficial, sendo celebrada desde o século XI. O beato franciscano João Duns Scotus ao longo da história foi um dos maiores defensores da Imaculada Concepção de Maria. defende que “A Santíssima sempre Virgem Maria sempre foi imaculada sem pecado desde a sua concepção, porém ela não teria sido se não preservada do pecado original, Jesus é mediador perfeitíssimo a preservou do pecado de Adão”. o que acreditamos e proclamamos é uma verdade de fé, revela que Maria pelos méritos de seu Filho foi preservada da mancha do pecado original no momento de sua concepção, permanecendo livre do pecado por toda a sua vida.
A vida de Maria se compreender em ser de Deus e para Deus desde sempre e para sempre. Assim Deus o desejou e em Maria realizou este seu desejo, ela nascer sem pecado desde a sua origem. Aqui se concretiza realmente o poder de Deus, para Ele nada é impossível (cf. Lc 1,37). Foi preciso e no querer de Deus que uma pessoa em vista da encarnação do Filho nascesse sem o “pecado das origens” e esta pessoa que ele escolheu foi Maria. Nesta perspectiva é simples compreender que tudo não é senão uma escolha de Deus. Escolhida desde sempre e para sempre para ser Mãe de Deus, por isto mesmo convinha que seu corpo e sua alma não fossem atingidos pelo pecado que cada um de nós ao nascer experimenta. Maria nunca experimentou a realidade do pecado. Não resta dúvida de que Maria é toda de Deus, em Deus ela encontra sua vocação de Mãe e discípula do Filho. Que beleza podermos contemplar Maria nesta integridade singular, participa de maneira plena do modo de Deus operar na história de toda a humanidade.
Permitam-me citar partes do primeiro parágrafo da Ineffabilis Deus, em que apresenta Maria nos projetos de Deus. “O inefável Deus, cuja conduta e misericórdia e verdade, cuja vontade é onipotência e cuja sabedoria alcança qualquer limite e com fortaleza dispõe suavemente todas as coisas, havendo previsto desde toda a eternidade a ruína lamentadíssima de todo gênero humano, que havia de provir da transgressão de Adão, havendo decretado, com plano misteriosamente escondido desde a eternidade, levar até o fim a primitiva obra de sua misericórdia, com projetos, todavia, mais secreto por meio da encarnação do Verbo, para que não perecesse o homem impelido pela culpa da astúcia da maldade diabólica e para que o que fez cair o primeiro Adão fosse restaurado mais felizmente posteriormente, chamada e escolhida, desde o princípio e antes dos tempos, uma mãe, para que seu Filho unigênito, feito sua carne, nascesse na feliz plenitude dos tempos, em tanto querer a amou acima de todas as criaturas, que somente nela encontra sua grande benevolência” Que graça mais incontida e imensurável podemos encontrar em Maria! A graça pelo seu consentimento a Deus, para ser mãe do Filho, nos tirar da morte e nos garantir a plenitude da vida eterna.
O sim de Eva havia fechado para a humanidade as portas do céu, agora um outro sim; um sim que brota do coração de uma Virgem, sem pecado concebida, um sim que abriu uma vez por todas as portas do céu. Um sim que nos salvou. É bem verdade o que nos disse São Bernardo em sua singular homilia ao ressaltar o consentimento de Maria ao anjo Gabriel. “O mundo inteiro espera a resposta de Maria. Ouviste, ó Virgem, que vais conceber e dar à luz um filho, não por obra do homem – Tu ouviste – mas do Espírito Santo. O anjo espera tua resposta já é tempo de voltar para Deus, que o enviou. Também nós, Senhora, miseravelmente esmagados por uma sentença de condenação, esperamos tua palavra de misericórdia. Ó Virgem, cheia de bondade, o pobre Adão, expulso do paraíso, com sua mísera descendência, implora tua resposta; Abraão a implora, Davi a implora. Os outros patriarcas, teus antepassados, que habitavam a região da sombra da morte, suplicam esta resposta. O mundo inteiro a espera prostados a teus pés. E não é sem razão, pois de tua palavra depende o alivio dos infelizes, a redenção dos cativos, a liberdade dos condenados, enfim, a salvação de todos os filhos de Adão, de toda a tua raça.” Estamos todos a caminho para a salvação e quem nos toma pelas mãos e nos conduz neste caminho é Maria aquela que totalmente assumida por Deus, nos insere no seu coração de mãe e nos apresenta ao Filho. Que caminho seguro nos é mais oferecido a ser percorrido? Não há outro senão o caminho que Maria mesmo percorreu, por isto mesmo que nas estradas da vida, nunca estamos sozinhos ela se faz peregrina, companheira em nossa caminhada hodierna.
Toda de Deus é Maria, por isto mesma toda da humanidade, toda de todos, conduzindo-nos a seu Filho Jesus Cristo.
O Padre Marcos Antônio dos Santos, Ocrl, é Religioso da Ordem dos Cônegos Regulares Lateranenses de Santo Agostinho, formado em Filosofia e Teologia, com pós graduação em Teologia Espiritual. Tem algumas publicações na área de Espiritualidade pela Editora Paulinas e exerce o Ministério Presbiteral como Pároco da Paróquia Santa Clara no Alto do Mateus, João Pessoa.
NO CORAÇÃO DE DEUS
No último domingo concluímos o Ano Litúrgico com a Solenidade de Cristo Rei, do Universo. O Evangelho deste ano nos ajuda a uma percepção teológica profundamente significativa: Estamos inseridos no coração de Deus, é o próprio Jesus com sua presença que abre as portas da Casa do Coração de Deus para entrarmos. No coração de Deus estão os pobres, excluídos e abandonados, os últimos da sociedade. No nosso coração e no coração da Igreja estes devem ser os primeiros a entrarem, a fazem a experiência da hospitalidade. Quem é que se encontra no coração de Deus?
A Liturgia deste domingo nos apresentou a “hora do julgamento”, ou melhor a hora do discernimento. O Senhor nos coloca diante da opção que fazemos de o servir ou não nos pobres. Me recordo das palavras de São João da Cruz: “No fim de tudo, seremos jugados pelo amor”. Veja bem não seremos julgados pelas práticas devocionais que realizamos, por mais recomendas e benéficas. É o amor e um amor concreto no serviço aos que mais necessitam que nos julgará. O amor é sempre um caminho de escolhas. Neste sentido nos perguntamos: Que escolhas estamos fazendo? A escolha de acolher o Cristo no pobre, no preso, no faminto, no migrante, no doente…? ou a escolha de o abandoná-lo nestas categorias de pessoas? Sabiamente a Liturgia nos faz o confronto da conclusão do Ano Litúrgico, ajudando-nos a compreender a centralidade da ação litúrgica decorrida, experimentada ao longo do ano. Precisamos compreender o sentido e a marcha da nossa vida, a partir da consciência de humanidade que carregamos dentro de nós. Que reinado “estranho”, este Rei nos apresenta. “Um Rei, um reinado feito de Pobres, Marginalizados e Excluídos”. Afainados pela riqueza, pela cultura do ter mais, do possuir, do excluir dificilmente compreenderemos este “reinado do Rei Pobre – Jesus de Nazaré.
O Evangelho deste domingo, nos convidou a percorrer este caminho; o caminho de uma nova consciência de humanidade, uma humanidade a partir dos excluídos e abandonados. A parábola do “juízo final” nos faz perceber que discernimento e salvação não são caminhos paralelos, mas caminhos de unidade. Não existe salvação sem uma opção por Cristo que se esconde nos empobrecidos. Não existe salvação sem uma opção pelos pobres, no fim de tudo são eles que nos julgam, seremos julgados por eles, por isto mesmo o modo como servimos o Cristo neles é a matéria do nosso julgamento final. O Papa Francisco disse: “São os pobres que abrirão as portas do céu para entramos” este pensamento do Papa Francisco, nos interpela nesta relação entre o Evangelho e os pobres. “O Evangelho não se entende sem os pobres”. (Papa Francisco). Como compreender um Deus que se esconde nos escondidos da humanidade? Como compreender um Deus faminto, nu preso, doente, refugiado, migrante, sedento, que nos interpela, nos questiona, nos coloca no movimento de ir ao encontro dele mesmo no outro que necessita? “…Quando foi que te vimos com fome e de demos de comer? Com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso e te fomos visitar”? Mt 25,37-39).Estas perguntas do Evangelho continuam a nos desafiar em nossa resposta. Então qual tem sido a nossa resposta? Ou somos uma Igreja servidora de Cristo nos pobres ou não seremos a Igreja de Jesus Cristo.
Só há uma condição para recebermos o Reino, o “Vinde benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo”. (Mt 26,34), entrar na escola do serviço a Cristo nos “invisíveis da humanidade”. “Todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40). Tomar consciência deste “foi a mim que o fizestes” é o desafio do tempo presente, sobretudo considerando os desafios de desumanização que experimentamos, a situação de pobreza, de vulnerabilidade, de exclusão tem crescido numa escala avassaladora, não só aqui no Brasil, mas no mundo inteiro.
Cada tempo com seus próprios desafios, o Evangelho nos ilumina no tempo presente, no hoje de Deus, na história a sermos um sacramento de esperança, de salvação para a humanidade. Lembrar que no coração de Deus sempre cabe mais um. Quem preciso colocar em meu coração, para receber o “Vinde bendito do meu Pai? Sempre ficara a certeza do “foi a mim que o fizestes”, da exigência evangélica a ser vivida no cotidiano de nossa vida.
A Solenidade que celebramos neste último domingo do Ano Litúrgico nos ajudou a perceber que o reinado de Jesus e feitos de pessoas humanas com necessidades que lhes são próprias, por meio delas seremos rejeitados ou acolhidos no seu Reino, depende muito das escolhas que fazemos para servir a Jesus.
O Padre Marcos Antônio dos Santos, Ocrl, é Religioso da Ordem dos Cônegos Regulares Lateranenses de Santo Agostinho, formado em Filosofia e Teologia, com pós graduação em Teologia Espiritual. Tem algumas publicações na área de Espiritualidade pela Editora Paulinas e exerce o Ministério Presbiteral como Pároco da Paróquia Santa Clara no Alto do Mateus, João Pessoa.
OLHAR O POBRE
No último domingo, o penúltimo do Ano Litúrgico que antecede a Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, desde o ano de 2017, sendo este o sétimo ano, o Papa Francisco instituiu o Dia Mundial dos Pobres; não se trata de uma mera lembrança dos pobres, ou de uma ação caritativa feita neste dia em favor dos mesmos, embora que toda ação em favor dos empobrecidos seja necessária. Os pobres nunca poderão ser esquecidos, nunca poderão ser colocados num lugar à parte na ação evangelizadora da Igreja. Como faz bem lembrar que o Diácono de Roma Lourenço (Primeira metade do século III), quando a ele foi pedido que apresentasse os tesouros da Igreja, pois o mesmo era responsável de administrar as ofertas para suprir as necessidades dos pobres e viúvas, diante de Valeriano, apresentou outro tesouro senão os pobres. “Os pobres são as estrelas e os tesouros da Igreja”. Os pobres, “estes são os tesouros da Igreja”. Olhar para o pobre porque nos inspiramos em Jesus de Nazaré e nas raízes da Igreja. Uma Igreja que se esquece de olhar para os pobres perde sua identidade, sua originalidade, seu caminho de proximidade com Jesus Cristo.
Os pobres nos convidam a alagar nossa tenda de misericórdia, de compaixão e proximidade. Proximidade com Deus e proximidade com os pobres são duas realidades imprescindíveis no nosso modo de agir. Esta proximidade com os pobres não se dá apenas por um olhar sociológico específico, mas por um lugar teológico que os pobres ocupam no coração de Deus. Aos pobres lhes é garantida, a partir de Jesus, a proximidade de Deus. O Verbo Eterno do Pai, enviado pelo Pai, inicia seu ministério em Nazaré da Galileia dizendo de si mesmo que veio para evangelizar, anunciar a Boa-Nova do Reino aos Pobres. “Foi então a Nazaré, onde se tinha criado”. (Lc 4,14). O ponto de partida do anúncio da Boa-Nova aos pobres é a própria vida pobre de Jesus, voltando a sua originalidade história, seu ponto de vivência e convivência com os pobres. Com os pobres no cotidiano de sua vida aprende a revelar o Deus próximo do seu povo, sobretudo dos mais sofridos e abandonados. Nesta volta a Nazaré cheio do Espírito proclama seu “programa de vida”, que têm como ponto de partida os pobres. “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu, para anunciar a Boa-Nova aos pobres…” (Lc 4,18). Anunciar a Boa-Nova aos pobres significa devolver aos eles o seu lugar no coração da Igreja, pois estes mesmos estão no coração de Deus.
O Papa Francisco, para este ano, se inspirou no tema do olhar, tão preciso e significativo nesta cultura da “invisibilidade dos pobres”. O texto de Tobias é um imperativo, uma ação, um apelo que não pode passar por cada um de nós esquecido. “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar” (Tb 4,7). Os pobres não podem ser afastados do nosso olhar, deles o nosso olhar não pode se esquivar. Olhar para os pobres é radicar de maneira progressiva na pastoral da Igreja a presença deles que não pode passar despercebida. Tobias nos convida a deles nunca afastar o nosso olhar; que perigo quando eles se tornam invisíveis, ou apenas objetos de uma ação meramente caritativa. Olhar o pobre na perspectiva bíblica que Tobias nos apresentar e fazer com que eles sejam protagonistas de uma nova história a ser escrita por eles mesmos. Despertar a consciência de transformação histórica e social a partir dos pobres. A raiz da pobreza está numa cultura de injustiça, que gera “ricos cada vez mais ricos, a custa de pobres cada vez mais pobres” (São João Paulo II). Tobias não entra em conformidade com este modo de pensar e agir: “Lembra-te sempre, filho do Senhor, nosso Deus, em todos os teus dias, evita o pecado e observa os seus mandamentos. Pratica a justiça em todos os dias da tua vida e não andes pelos caminhos da injustiça” (Tb 4,5). Toda pobreza é produto de uma injustiça, de uma cultura do acúmulo, de descarte da pessoa humana.
O Dia Mundial dos Pobres nos ajuda a promover a partir dos pobres, com gestos e ações concretas a cultura do encontro e da solidariedade, conscientizando-nos que precisamos enquanto Igreja e sociedade combater a pobreza e a exclusão social. Não se pode evangelizar sem transformar o que precisa ser transformado à luz do Evangelho. O Papa Francisco logo no início da mensagem para este ano apresenta-nos os pobres como conteúdo central do Evangelho. Nossa ação pastoral tem despertado para esta centralidade evangélica? Onde estão os pobres em nossos planos pastorais? Que apelos os pobres nos fazem a partir de seu empobrecimento? Que exortação, mais contendente, exigente o Papa Francisco nos faz: “Empenhamo-nos todos os dias no acolhimento aos pobres, mas não basta. A pobreza permeia as nossas cidades como um rio que engrossa sempre mais até extravasar; e parece submergir-nos, pois o grito dos irmãos e irmãs que pedem ajuda, apoio e solidariedade ergue-se cada vez mais forte”. Há gritos que não podem ser calados, há rostos que não podem ser escondidos, há olhares que não podem ser esquecidos, há vidas que não podem deixar de ser promovidas. Há uma presença de Deus nos pobres que não pode ser negada.
O texto de Tobias continua, “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar, e nunca se afastará de ti o olhar de Deus” (Tb 4,7). Condição para ser olhado por Deus e nunca deixar de olhar o pobre, não afastar dele o meu olhar.
O Padre Marcos Antônio dos Santos, Ocrl, é Religioso da Ordem dos Cônegos Regulares Lateranenses de Santo Agostinho, formado em Filosofia e Teologia, com pós graduação em Teologia Espiritual. Tem algumas publicações na área de Espiritualidade pela Editora Paulinas e exerce o Ministério Presbiteral como Pároco da Paróquia Santa Clara no Alto do Mateus, João Pessoa.
DIOCESANEIDADE: QUANDO PARTICIPAR É CUIDAR
O Concílio Vaticano II nos despertou para a consciência de que a “Igreja é povo de Deus”, penso que tenha sido umas das maiores contribuições para a eclesiologia, pois esta consciência além da contribuição não nos aspectos teológicos e pastorais despertou-nos do “sono da corresponsabilidade eclesial”, Povo de Deus, parte essencial e fundamental no corpo da Igreja, Ministros Ordenados, Religiosos (as), Consagrados(as), Leigos(as), todos parte de um todo, que gera a comunhão a participação e como consequência a missão.
A Constituição Dogmática sobre a Igreja – “Lumen Gentium” sintetiza de maneira perfeita esta compreensão eclesial de que na Igreja somos uma unidade, uma comunhão e não apenas uma instituição desvinculada das realidades inerentes da história. O que nos une em si não é o vínculo institucional, por mais importante que este seja, mas o que nos dar a garantia da unidade e “sacramentalidade eclesial”. Com isto percebemos que uma das grandes contribuições do Concílio Vaticano II, foi a renovação da auto-compreensão da Igreja. Uma auto-compreensão de si mesma para o tempo presente. Igreja o que és? A que és chamada a ser? Dizer que a Igreja é povo de Deus é dizer que há um comprometimento de todos aqueles que fazem parte desta unidade eclesial e que pelos desígnios do próprio Cristo somos chamados a sermos um sacramento de salvação no mundo. Consideremos, portanto, que a ação salvífica de Cristo na história passa pela mediação da Igreja.
Igreja é “Povo de Deus”, na sua unidade e na totalidade com Cristo. “Este povo messiânico tem por cabeça Cristo, “o qual foi entregue por nossos pecados e ressuscitou por nossa justificação” (Rm 4,25), e agora, tendo conseguido um nome que está sobre todo o nome, reina gloriosamente nos céus” (LG 9). O tema da diocesaneidade é subjacente na eclesiologia da Igreja, embora o termo seja de uma aplicação eclesiológica recente. O que realmente este termo evoca? Diocesaneidade é o senso de pertença e comunhão com a Igreja local da qual faço parte. O todo estar inserido nesta parte particular da Igreja que somos, Arquidiocese da Paraíba, que desde a sua instalação canônica até o tempo presente é chamada a ser presença de salvação, isto implica para si mesma e para todos a quem ela se coloca como serva, ser uma presença viva e eficaz de Deus, ser uma presença de esperança em meio as dores, alegrias e sofrimentos deste povo.
Hoje vivemos a “cultura do não cuidado”, o cuidado estar em crise, de certa maneira não há nem o cuidado de si nem do outro, e esta cultura é um perigo, desfavorece de maneira direta a diocesaneidade pois ela requer que cada um assuma a Igreja como sujeito eclesial. O que cantávamos em nossas Comunidades a alguns anos: “Eu sou Igreja, você é Igreja, somos a Igreja do Senhor, irmão vem ajuda a edificar a Igreja do Senhor!” explicitava de maneira bem concreta a diocesaneidade a que somos chamados a construir. A diocesaneidade é uma construção que exige participação com cuidado, saber cuidar das feridas da própria Igreja, sendo um bálsamo de esperança em meios aos nossos próprios desesperos, para saber baixa-se diante dos caídos em nossa volta.
O cuidado como parte essencial da diocesaneidade requer uma atitude de proximidade, de gratuidade, de vida inserida no mistério de Cristo, para poder ser “Igreja samaritana”, que cuida e deixa-se cuidar. Do mistério de Cristo, ao mistério do ser humano, necessitado sempre do cuidado pastoral. Cuidar é uma arte que precisa ser continuamente cultivada na vida da Igreja, para que nosso modo de agir não seja senão a partir do modo de Jesus. Jesus revela ser um ser de cuidado e devolve para seus discípulos o cuidado como sacramento de sua presença. Cuidar da Igreja na sua essência para que ela não perca sua vocação no mundo, relvando o Reino, manifestando ser presença de Cristo.
Creio que a celebração das comemorações dos 130 anos da criação da Diocese da Paraíba (1894) e dos 110 anos de elevação a Arquidiocese (1914) a serem celebradas no próximo ano é um momento oportuno para despertar em cada um a consciência de que participar é cuidar. O tema da diocesaneidade concatena-se de maneira perfeita, com participação e cuidado. Eu participo desta Igreja-Arquidiocese da Paraíba, o modo de participar não deve ser outro senão no cuidado, assumindo esta Igreja com suas dores, alegrias e sofrimentos. Há muita esperança em nosso caminho, mesmo que por vezes nos sintamos marcados pelos desesperos. Nestas horas serve-nos de conforto as palavras do profeta Josué: “Não fui eu que lhe ordenei? Seja forte e corajoso! Não se apavore, nem se desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar” (Js 1,9). Este sujeito eclesial que sou chamado a ser nesta Igreja da Arquidiocese da Paraíba assume a Igreja como sua, seu lugar de vivencia batismal. Como vivo a diocesaneidade no cotidiano de minha inserção na vida da Igreja? Eu sou Igreja e isto é uma graça imensurável que podemos experimentar mesmo em meio as nossas fraquezas.
O Padre Marcos Antônio dos Santos, Ocrl, é Religioso da Ordem dos Cônegos Regulares Lateranenses de Santo Agostinho, formado em Filosofia e Teologia, com pós graduação em Teologia Espiritual. Tem algumas publicações na área de Espiritualidade pela Editora Paulinas e exerce o Ministério Presbiteral como Pároco da Paróquia Santa Clara no Alto do Mateus, João Pessoa.