O ano litúrgico da Igreja está chegando ao seu fim. Estamos já nos aproximando do tempo de preparação para o Natal do Senhor. A Palavra de Deus deste domingo, nos faz um convite muito interessante sobre duas exigências imprescindíveis da vida cristã: vigilância e o empreendedorismo dos dons que Deus nos confia.
O Evangelho deste domingo narra a famosa parábola dos talentos (Mt 25,14-30). No mundo antigo, o “talento” era uma antiga moeda do governo romano. Era uma moeda de grande valor, portanto, as pessoas que a detinham, passavam a ter a responsabilidade de fazer frutificar esse alto valor.
A parábola conta a existência de um homem que, ao partir para uma viagem, chamou seus servos e entregou o cuidado de seus bens. Quem é esse homem? E quem são esses servos? Os clássicos comentadores das Sagradas Escrituras chegaram a conclusão que o homem, prestes a viajar, é Cristo. Os servos são os discípulos e missionários de Jesus a quem são confiados os talentos de sua graça.
O Reino de Deus é a própria Pessoa de Nosso Senhor. Um reino vivo e misteriosamente atuante no coração do mundo, ainda que este O rejeite. O reino de Deus nos chama à partilha dos dons que nos foram confiados.
Um dos belíssimos ensinamentos dessa parábola é o de que devemos guardar, com alegria, os dons que Deus nos confia. Deus nos pedirá contas de tudo o que nos confiou! “A atitude errada é a do receio: o servo que tem medo do seu senhor e teme o seu retorno, esconde a moeda debaixo da terra e ela não produz qualquer fruto. Isto acontece por exemplo com quem, tendo recebido o Batismo, a Comunhão e a Crisma, depois enterra tais dons debaixo de uma camada de preconceitos, sob uma falsa imagem de Deus que paralisa a fé e as obras, a ponto de atraiçoar as expectativas do Senhor. Mas a parábola põe em maior evidência os bons frutos produzidos pelos discípulos que, felizes pelo dom recebido, não o conservaram escondido, com receio e inveja, mas fizeram-no frutificar, compartilhando-o, comunicando-o” (Papa Bento XVI).
Outra grande lição da parábola dos talentos é a de que tudo pertence a Deus. Nada é nosso! Cristo nos presenteou com seus talentos para que pudéssemos sempre fazer multiplicá-los. O mundo que habitamos necessita recorrentemente ser colocado diante desse espirito de comunhão e compartilhamento. Precisa aprender a nada reter, mas tudo oferecer em favor, principalmente, dos mais pobres e esquecidos.
O Papa Francisco ao comentar essa parábola insiste em nos ensinar sobre a necessidade de não esconder a fé recebida no batismo: “essa parábola anima-nos a não esconder a nossa fé nem a nossa pertença a Cristo, a não enterrar a Palavra do Evangelho, mas a fazê-la circular na nossa vida, nos relacionamentos, nas situações concretas, como uma força que põe em crise, que purifica e renova. Assim também o perdão, que o Senhor nos oferece especialmente no Sacramento da Reconciliação: não o conservemos fechado em nós mesmos, mas permitamos que ele transmita a sua força, que faça ruir aqueles muros elevados pelo nosso egoísmo, que nos leve a dar o primeiro passo nos relacionamentos bloqueados e retomar o diálogo onde já não há comunicação… E assim por diante. Devemos fazer com que estes talentos, estes presentes, estes dons que o Senhor nos concedeu cheguem aos outros, cresçam e dêem fruto através do nosso testemunho.”
O tesouro da graça de Deus chama-nos ao fiel compromisso da caridade cristã. A caridade é o maior de todos os tesouros que podemos fazer frutificar e sem a qual qualquer outro dom é secundário, como nos ensina o Apóstolo Paulo em 1 Cor 13,3. Estejamos vigilantes para que esse compromisso não seja subtraído do testemunho que devemos dar ao mundo. Que Maria Santíssima, Aquela que guardou perfeitamente o grande dom de Deus para a humanidade, Cristo, interceda pela Igreja, presente no mundo inteiro. E que jamais no falte a alegria de testemunhar e fazer frutificar o Evangelho a quantos necessitarem.