Ao longo dos Evangelhos, a Palavra de Deus também nos contagia quando nos propõe a meditação sobre a sobriedade da vida. O ensinamento de Jesus sobre a parábola do homem rico e do pobre Lázaro (Cf. Lc 16,19-31) denuncia o uso iníquo dos bens e condena o estilo de vida pautado no egoísmo: “Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado” (Cf. Lc 16,23). Essa parábola toca-nos profundamente porque também denuncia os estilos de vida pregados pela cultura que descarta Deus e o pobre. Quem segue a Jesus Cristo sabe que precisa conservar, com alegria, essa sobriedade que sempre inclui o outro.
A etimologia do nome “Lázaro” fala da ocupação de Deus, o nome do pobre significa precisamente “Deus ajuda-o”. Lázaro é o pobre de todos os tempos, e Deus, permanentemente se ocupa dos mais frágeis. Obviamente que aqui não se quer incitar a luta de classes sociais e suas divisões. As páginas da Bíblia não apagam os ricos de sua história de salvação. A riqueza é fonte dos males quando não se abre à partilha, às necessidades dos empobrecidos. O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo nunca se orgulhará da imposição de amarras ideológicas, pretendendo desprezar os ricos que partilham, mas também não se calará diante do escândalo do enriquecimento assoberbado em detrimento dos mais fracos. A mensagem que se quer passar aponta para a relação de Deus com o desamparado, uma mensagem social com os olhos e as mãos cheias da caridade do Evangelho. Vejamos: “Lázaro representa bem o grito silencioso dos pobres de todos os tempos e a contradição de um mundo onde a imensa riqueza e recursos estão nas mãos de poucos” (Papa Francisco).
Os cristãos são chamados a se ocuparem dos pobres, como faz Deus. Devemos, a todo custo, não permitir que o sofrimento do pobre Lázaro se prolongue mais. E um pequeno sinal que podemos dar deste não prolongamento da pobreza é o de tornar o nosso estilo de vida um exercício constante com a marca da sobriedade, partilhando o pouco que temos, e não esperar somente que os grandes e o Estado sejam os únicos guardiões dos pobres.
A caridade é uma chamada evangélica aos discípulos de Jesus. Não há como ser discípulo de Jesus sem o cuidado dos mais fracos! Os muitos “Lázaros” do nosso tempo esperam o movimento de generosidade da nossa partilha. Jamais devemos nos acostumar com a pobreza social. Ela denuncia a nossa falta de testemunho como bons cristãos, tornando-nos distantes daquilo que Jesus fez na última ceia: “Ele amou os seus neste mundo até o fim” (Cf. Jo 13,1). O Papa Francisco faz questão de falar isso ao mundo, quando usou das redes sociais oficiais para afirmar que “a caridade, vivida seguindo as pegadas de Cristo na atenção e compaixão por cada pessoa, é a mais alta expressão da nossa fé e da nossa esperança”. E, ainda nas palavras do Santo Padre: “com o seu dinamismo universal, a caridade pode construir um mundo novo, porque não é um sentimento estéril, mas o modo melhor de alcançar vias eficazes de desenvolvimento para todos”.
Que as nossas mãos ocupadas da verdadeira caridade, a caridade do Evangelho, sempre nos desinstalem da vida cômoda e nos faça promotores da cultura do bem e cuidado!
Dom Frei Manoel Delson