Diácono Ringson Tolêdo. Advento: Profecia e justiça em Cristo Jesus

Diácono Ringson Tolêdo.

Ao começar um tempo novo na igreja, somos impelidos a compreender o que esse tempo nos oferta, afinal tudo modifica, as cores, as leituras bíblicas, o acento em alguns profetas, os cânticos. Nesse aspecto, somos sabedores que a preparação para o natal do Senhor, no qual se reveste o tempo litúrgico do advento, traz uma série de expressões imperativas: VIGIAI!! PREPARAI!!! ESCUTAI!!

Os destaques proféticos, que prefiguram e antecipam as realidades messiânicas, nos impele a uma escuta e vigilância não estática, conforme escutamos no primeiro domingo “[…] deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a cada um sua tarefa. E mandou o porteiro ficar vigiando.(Mc 13, 34). As riquezas dos textos da escritura, na temporalidade do advento, são importantes elementos que denotam o acento escatológico de uma alegre expectativa.

No entanto, sob outro aspecto, não devemos esquecer que o advento retrata, na beleza da sua liturgia, um elemento fundamental, qual seja, a espera feliz pela concretização da justiça para os mais fracos. E por aqui, acentuamos que o destaque no senso de justiça não tem nada de militância ideológica ou coisa similar. Pelo contrário, a justiça em vista da libertação dos mais pobres se insere no “DNA” da literatura profética.

Nesse aspecto, preparar o coração humano para encontrar o Cristo na manjedoura é testificar aquilo que Deus, desde os tempos de outrora quis transmitir a seu povo, afinal, o Messias anunciado (cf. Isaías 61,1-2a.10-11/ 3º domingo advento – ungido e manifestado a trazer a paz, como fruto da justiça – cf. Isaías 32, 17) é o  desejo inserto nos cânticos e nas inspirações que permeiam as quatro semanas do advento, elucidando as maravilhas feitas por Deus a seu povo.

A justiça, como dom permanente da promessa divina, em particular aos mais humildes, vinda do alto, num movimento de descida e subida, tão presentes nas leituras e “orações da coleta” do advento (cf. Is 63,4.19b/ 1º domingo advento – Sl 84.11/ 2º domingo do advento e Is 61,11/ 3º domingo do advento) tem a sua concretização em Jesus, o Senhor (Kyrios), o ungido do Pai, que buscou exercer uma justiça que se contrapunha ao julgo da opressão, a exemplo do que preconizava São Paulo, quando afirmou“ser oCristo o ungido do pai e reconciliador do gênero humano, atraindo para si a todos, sejam eles fracos e fortes, judeus e gentios” (Johan Konings. g. nosso).

Portanto, que o advento nos ajude a fazer memória da justiça profética de Deus no meio do seu povo, nos fazendo“CONTEMPLAR O INFINITO NA HISTÓRIA, O INESPERADO NO ROTINEIRO, O DIVINO NO HUMANO, PORQUE O ROSTO DE UM HOMEM NOS DEVOLVEU O ROSTO DE DEUS” (Cardeal José Tolentino Mendonça. g. nosso).

Ringson é diacono permanente da Arquidiocese, atuando pastoralmente na Paróquia São José Operário em Cruz das Armas. É membro colaborador da coordenação arquidiocesana de pastoral, além de advogado, especialista em Direito Civil, Processo Civil e Consumidor, Mestre em Educação pela UFPB, bacharel em Filosofia, formado em Teologia e especialista em Doutrina Social da Igreja


Refletir e Formar.

A iniciativa do setor de comunicação da Arquidiocese da Paraíba em expor reflexões semanais, com o intento de trazer variados temas ligados à doutrina eclesial, unindo interdisciplinarmente a teologia com antropologia, filosofia, ciências sociais e humanas é louvável e tem a finalidade de colaborar na formação da comunidade humana e das consciências críticas. É o binômio refletir e formar.

Nesse aspecto, os leitores(as), por meio das reflexões trazidas nos artigos, tornam-se partícipes e multiplicadores de tudo o que for lido nesse e em outros espaços – afinal, agradeço por estar junto de colegas colunistas que são bem mais desenvoltos e perspicazes, pela vasta experiência, em fazer os leitores REFLETIREM e FORMAREM de forma altruísta.

O despertar pela leitura dos textos, no qual me incluo com muita humildade, deve fomentar, a partir da liberdade de cada um, homens e mulheres com solidez e desejo de, como expõe Bauman (1925-2017) transformar e não deixar com que a superficialidade sobreponha as relações humanas e sociais. Por esse viés, cada leitor e leitora, no debruçar dos textos, deve formar com responsabilidade não apenas a si mesmo, mas os demais, perfazendo uma teia colaborativa capaz de adentrar de forma humana e solidária no mundo do outro.

Historicamente, a peculiaridade em tratar de reflexões sobre temas relacionados com a teologia e a pastoral, em diálogo com outros saberes, lendo, relendo, escrevendo, debatendo, concordando ou discordando, teve como nascedouro o protagonismo e novo horizonte eclesial, para dentro e para fora, legado pelo Concílio Vaticano II (1962-1965) fazendo com que os cristãos se guiassem “sempre e unicamente por sua consciência cristã.” (AA, 1965, nº 5), no qual acrescento, não apenas uma consciência cristã, mas uma CONSCIÊNCIA HUMANA E HUMANIZADORA.

Portanto, a reflexão sobre aspectos variados do cotidiano, inclusive com temas relacionados ao saber da fé, não apenas colabora na formação de quem lê, mas leva quem escreve a ter posicionamento. Aliás, numa sociedade marcada por tensões, posicionar-se é um ato de coragem. No entanto, espero que a leitura de cada linha tenha a finalidade de pontificar, entre concordâncias, discordâncias, pontos de vista ou vistas de um ponto, para o bem e a boa convivência universal.

Ringson é diacono permanente da Arquidiocese, atuando pastoralmente na Paróquia São José Operário em Cruz das Armas. É membro colaborador da coordenação arquidiocesana de pastoral, além de advogado, especialista em Direito Civil, Processo Civil e Consumidor, Mestre em Educação pela UFPB, bacharel em Filosofia, formado em Teologia e especialista em Doutrina Social da Igreja