O Domingo de Ramos, celebrado no mundo inteiro neste dia, nos faz meditar sobre a entrada solene de Jesus em Jerusalém. Nosso Senhor está subindo para a cruz. O povo O acolhe como Rei: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!” (Mt 21,9). O povo é tomado de surpresa, como comenta o Papa Francisco: “passamos da alegria de acolher Jesus, que entra em Jerusalém, à tristeza de O ver condenado à morte e crucificado. É uma atitude interior que nos acompanhará ao longo da Semana Santa. Abramo-nos, pois, a esta surpresa.”
Jesus entra em Jerusalém de maneira simplíssima. Não entra como um rei medieval montada em grandes cavalarias, mas num jumentinho. Jesus também segue para Jerusalém para fazer a sua Páscoa. Uma Páscoa diferente da prevista pelos judeus. A Páscoa que Ele realizou foi ditada pelo sacrifício de Si. Uma entrega voluntária de Si. A entrada triunfante de Jerusalém nos levará ao horror da cruz no Calvário. O povo esperava um poderoso libertador, mas o que acontece é a entrada de um rei que veio celebrar a vitória de Deus com a cruz.
No caminho da fé, quantas vezes nos frustramos com o Senhor, porque esperamos Dele uma experiência de fé isenta do sofrimento e da cruz. Esquecemos-nos que Ele mesmo nos ensinou o caminho da superação através da sua cruz. Ele subiu no Calvário para nos salvar e nos ensinar a amar, ainda que tenhamos que sofrer.
Essa subida para Jerusalém, como tudo na vida e no ministério de Jesus, é uma atitude solidária. Ele nos precedeu para reafirmar que não estamos sozinhos na caminhada da vida. Devemos entrar nessa procissão que levará à cruz. A procissão de ramos é uma memória de que somos peregrinos neste mundo. Caminhamos para o alto, e caminhamos na companhia de Jesus. É verdade que, por vezes, não conseguimos acompanhar os passos firmes de Nosso Senhor, mas Ele não nos abandona.
Iniciamos mais uma Semana Santa. Quais sentimentos trazemos no coração? Quais propósitos sinceros nutrimos ao longo do caminho quaresmal? Esses questionamentos devem ser respondidos à luz da fé. Mas não de qualquer fé. O sim que damos ao Senhor exige uma apropriação instalada na realidade. O caminho de fé que nos toca deve formar Cristo dentro de nós. Portanto, nossa vida deve corresponder aos fatos terrenos da vida de Jesus. Se Ele entrou em Jerusalém com o firme propósito de passar pela cruz, também nós devemos seguir Seus passos. Do contrário, carregaremos fardos ao longo da vida que só nos cansarão. Perderemos o sentido de vida.
O Mistério da Morte e Ressurreição de Cristo nos “batiza” na confiança de Deus. A cruz de Jesus se apresenta como um horror diante de nossas inconsistências, mas, para quem cresce na fé, a cruz é caminho, é via que amadurece. Quem dirige o olhar para o Crucificado é batizado no amor consolador de Deus. “Deixemo-nos surpreender por Jesus para voltar a viver, porque a grandeza da vida não está na riqueza nem no sucesso, mas na descoberta de que somos amados. Esta é a grandeza da vida: descobrir que somos amados. A grandeza da vida está precisamente na beleza do amor. No Crucificado, vemos Deus humilhado, o Onipotente reduzido a um descartado” (Papa Francisco).
Com o Senhor, caminhamos, seguros e peregrinos para o alto. “Andamos à procura do coração puro e das mãos inocentes, andamos à procura da verdade, procuramos o rosto de Deus” (Papa Bento XVI).
A Semana Santa é um tempo de renovação profunda e aproximação dos momentos últimos terrenos de Jesus. Momentos que marcam o coração de quem crê. Acolhamos, com piedade decidida, o mistério da cruz do Senhor. Ele não vai nos tirar nada; ao contrário, nos dará tudo. Dará verdadeiro sentido de vida aos que se unirem ao seu coração, apesar dos inevitáveis sofrimentos da vida.
Unidos à Virgem Maria, que não fugiu do sofrimento do seu Filho, façamos dessa Semana Santa um tempo de profunda conversão. O amor de Cristo é sempre mais forte do que toda dor e sofrimento, portanto, avizinhemo-nos desse amor sem medo!