Carregamos o desejo de eternidade

A caminhada quaresmal aproxima-se do seu grande objetivo: celebrar a imensidão do amor de Deus revelado no Mistério da Cruz e Ressurreição de Nosso Senhor. Neste último domingo da quaresma, escutamos na liturgia da Palavra o grande sinal da ressurreição do Lázaro. Os momentos finais dessa caminhada penitencial nos fazem meditar sobre a superação da vida sobre a morte. Jesus, com a ressurreição de Lázaro, coloca abaixo a barreira da morte.

No coração humano, há uma intenção contínua de sempre acreditar na vida para além da barreira da morte. O coração de quem crê sempre se apoia no desejo de eternidade. O caminho proposto pela fé nos convida a ter os olhos nesse desejo eterno; e, mesmo com as canseiras terrenas, a Palavra de Deus vai nos motivando a prosseguir.

O que nos impede de confiar inteiramente na promessa de eternidade do Senhor? Construímos nossa vida, muitas vezes, como se fossemos esgotar o sentido de viver aqui na terra. Com isso, vamos absorvendo antivalores, tais como a ambição. A ambição desmedida talvez seja um dos grandes pecados da humanidade. O homem que vive longe de Deus busca construir sua vida sobre o império da vontade própria, assume para si, de maneira decidida, a prática do pecado, impondo-se aos outros, e desinteressando-se pelo bem destes, como se fosse um senhor absoluto, um explorador da criação: “Quando se abandona a lei de Deus, a lei do amor, acaba por se afirmar a lei do mais forte sobre o mais fraco. O pecado – que habita no coração do homem (cf. Mc 7, 20-23), manifestando-se como avidez, ambição desmedida de bem-estar, desinteresse pelo bem dos outros e muitas vezes também do próprio – leva à exploração da criação (pessoas e meio ambiente), movidos por aquela ganância insaciável que considera todo o desejo um direito e que, mais cedo ou mais tarde, acabará por destruir inclusive quem está dominado por ela” (Papa Francisco). A vida eterna com Deus começa a se desenvolver nas escolhas fundamentais que vamos fazendo ao longo de nossa vida terrena. Não uma descontinuidade, como se as nossas más escolhas fossem magicamente apagadas.

Com a ressurreição de Lázaro, Nosso Senhor espera de nós um exigente ato de fé: “Eu sou a ressurreição e a vida: quem crê em mim, mesmo se morrer, viverá” (Jo 11,23-24). Crer Nele, não importa o que nos aconteça. Esse ato de fé nos pedirá uma recorrente resposta, principalmente, nos momentos de sofrimento. A cruz de Cristo que se põe diante dos nossos olhos não é sinal de desânimo e desesperança, mas significa a força que precisamos para retornar para o Senhor Ressuscitado e para o cuidado de nossos irmãos.

O sentido quaresmal busca imprimir um real caminho de conversão. Quantas situações de morte precisamos abandonar para deixar que os horizontes da graça de Deus nos transforme. Devemos pedir essa graça de conversão ao Bom Deus que jamais quer a morte do pecador, mas que ele mude de vida. A cada quaresma, devemos crescer no caminho de santidade para o Senhor. Quaresma é tempo de mudar de vida. Uma mudança que passa pela coragem de abandonar os maus comportamentos, como fruto da adesão radical do Evangelho de Cristo.

Nesta etapa final da quaresma, o Evangelho de Lázaro nos ensina que há uma outra morte mais dura: é a morte espiritual. E devemos estar atento às consequências eternas dessa morte. Contudo, Cristo manda Lázaro ressuscitar para nos ensinar que o pecado nunca tem a palavra definitiva, mas é a graça de Deus quem nos define. Basta que nos convertamos! O domínio é sempre do Deus da vida, como nos ensina o Papa Francisco: “Aqui constatamos diretamente que Deus é vida e dá vida, mas Ele assume o drama da morte. Jesus poderia ter evitado a morte do seu amigo Lázaro, mas ele quis fazer sua a nossa dor pela morte de entes queridos, e acima de tudo ele quis mostrar o domínio de Deus sobre a morte. Neste trecho do Evangelho, vemos que a fé do homem e a omnipotência de Deus, do amor de Deus procuram-se e, por fim, encontram-se. É como um caminho duplo: a fé do homem e a omnipotência do amor de Deus que se procuram, no final encontram-se.”

Nestes momentos finais da quaresma, dirijamo-nos à Virgem Mãe de Deus, pedindo a sua resiliência amorosa para nunca desistir do caminho da fé. Ela, que não tem pecado, nos gera para misericórdia de Deus e nos educa para as coisas eternas. Desejo uma semana santa, já às nossas portas, frutuosa e marcada por um real espírito de conversão.