Dom Frei Manoel Delson Pedreira da Cruz, OFMCap
Dentro do tempo do Advento, período especial em que a Igreja se
prepara para acolher o Senhor que vem das alturas do céu, mas que já está no
meio de nós, através dos sacramentos da Igreja, celebramos com grande alegria,
no dia 8 de dezembro, a Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria.
Maria, a Mãe de Jesus e nossa, a cheia de graça, é a beleza que não se fecha em
si mesma, mas se deixa habitar por Deus. No coração de Nossa Senhora, vemos
o triunfo da graça sobre o pecado. Essa verdade ilumina o sentido profundo da
solenidade: Maria é a grande crente que, abandonando-se com confiança, se
coloca livremente nas mãos de Deus. Sua beleza não nasce de si mesma, mas
da abertura total à graça divina. Por isso, ela se torna o grande modelo de
santidade oferecido à Igreja que peregrina rumo ao céu: “Maria reflete a Igreja,
antecipa-a na sua pessoa e, em todas as turbulências que afligem a Igreja
sofredora e fatigada, permanece sempre a sua estrela da salvação. (…) Em
Maria, a Imaculada, encontramos a essência da Igreja de modo não deformado.”
(Bento XVI, 8 de dezembro de 2005).
Para os católicos, este dia é muito importante porque nos recorda o amor
e a verdade, tão preteridos na cultura que nos rodeia e que não defende a
verdade absoluta. Hoje, o ser humano é frequentemente tentado a viver sob a
suspeita de que o verdadeiro amor de Deus cria uma prisão, uma dependência,
algo do qual se deve a todo custo libertar-se para ser inteiramente ele mesmo,
sem Deus.
A Imaculada Conceição da Virgem Maria é um grito que chega aos
nossos ouvidos cerrados e se apresenta como uma via segura: a dependência
de Deus nos pede amorosamente a luta contra toda a tirania do pecado. Nossa
Senhora é isenta do pecado original porque Deus a acolhe como um grande
“sim”. Tal isenção não significa apenas não pecar, tampouco carrega um tom
moralista; ela revela, antes de tudo, a relação plena e íntegra que Maria vive com
Deus. Ela deixou-se ser totalmente entrelaçada pela ação divina. Aqui se
encontra o coração da mensagem desta solenidade litúrgica.
Nesse sentido, iluminam-nos as palavras do Papa Francisco, que
frequentemente apresentava Maria como a cheia de graça: “Deus sempre a
pensou e a quis, no seu desígnio inescrutável, como uma criatura cheia de graça,
isto é, cheia do seu amor. Mas para estar repleto, é preciso encontrar espaço,
esvaziar-se, pôr-se de lado.” Uma mulher cheia de Deus, mas sem deixar de
estar voltada para as necessidades dos irmãos. Assim é a Virgem Maria!
Devemos olhar para Maria, pois nela contemplamos a altura e a beleza
do plano de amor de Deus para nós: um plano que deseja nos tornar santos e
imaculados no Seu perfeito amor (cf. Ef 1,4). A festa mariana em questão é, de
certo modo, um “exorcismo” contra a falsa mentalidade de felicidade que
empurra Deus para os espaços privados da vida. Ouve-se com frequência que
Deus já não faz parte da pauta do homem moderno; contudo, quando nos
deparamos com o testemunho humilde e santo da Virgem Maria, nosso coração
se inclina e volta a reafirmar: Deus conta e tem um plano de amor para todos.
É belo reconhecer que a Imaculada Conceição se conecta
profundamente com o tempo do Advento. Neste período de espera vigilante pelo
Salvador, Maria se apresenta como o “sinal puro da esperança”, aquela que,
totalmente aberta à graça, antecipa em sua própria vida o que Deus deseja
realizar na humanidade inteira. Enquanto a Igreja se prepara para acolher Cristo
que vem, contempla em Maria a primeira morada preparada por Deus para a
Encarnação. Assim, a Imaculada torna-se luz que guia o Advento: em sua
pureza, aprendemos a esperar; em seu coração disponível, aprendemos a
acolher; em seu “sim”, descobrimos a verdadeira alegria da chegada do Senhor.
Que a nossa existência siga o exemplo da Virgem Imaculada, que jamais
desconfiou de Deus. Em tudo, ela se mostrou confiante. Aprendamos com os
antigos crentes a tê-la no coração como Mãe que aproxima o céu da terra, e que
a nossa presença no mundo, junto com Maria, seja um “sim” a Deus e aos
homens. Afinal, sabemos que Deus é o único e definitivo critério da felicidade dos
homens e mulheres!
