Dom Frei Manoel Delson Pedreira da Cruz, OFMCap. Arcebispo da Paraíba
A Palavra de Deus sempre nos convoca ao amor a Deus traduzido no amor imediato dos irmãos. O amor ao próximo é condição fundamental para o amor que devemos a Deus. E quando não conseguimos amar os que nos são fatigosos?! Será que estaríamos falhando no nosso amor a Deus? A pessoa humana sempre é capaz de fazer contínuos progressos, mas às vezes nos deparamos com grandes dificuldades em acolher a quem nos tenha feito algum mal. Mas a quem podemos considerar nossos inimigos? O Papa Francisco nos responde: “Inimigos são também aqueles que falam mal de nós, que nos caluniam e nos enganam. Não é fácil digerir isso. A todos eles, somos chamados a responder com o bem, que também tem as suas estratégias, inspiradas pelo amor”.
O Evangelho de Nosso Senhor incansavelmente nos colocará diante da estratégia da bondade como resposta aos nossos inimigos, pois “a ninguém deu licença de pecar” (Eclo 15,21). Vivemos em contextos sociais marcados pela impaciência e conflitos gratuitos, não estamos mais dispostos a esperar o tempo de crescimento do outro. Contudo, a partir de uma leitura atenta da vida de Jesus percebemos o quanto a bondade e a paciência são costumes necessários para estabelecer relações fraternas. A fraternidade não é somente uma atitude universal, mas é uma consequência de quem busca viver o Evangelho como medida nas relações.
Esse caminho de bondade com os irmãos é uma chamada especial neste ano jubilar que toda a Igreja está vivenciando. Não podemos caminhar de qualquer forma, devemos nos encher da esperança de Deus. Caminhar com os irmãos não é uma tarefa fácil, mas somos chamados a isto, como nos lembra o Papa Francisco em sua Mensagem para a Quaresma deste ano: “Deus pede-nos que verifiquemos se, nas nossas vidas e famílias, nos locais onde trabalhamos, nas comunidades paroquiais ou religiosas, somos capazes de caminhar com os outros, de ouvir, de vencer a tentação de nos entrincheirarmos na nossa autorreferencialidade e de olharmos apenas para as nossas próprias necessidades.” O chamado de caminhar com os outros é para todos!
O amor que devemos aos nossos inimigos deve ser acompanhado da oração. Buscamos perdoá-los porque somos filhos do mesmo Pai. O nosso Pai que está nos céus. E só por meio da oração que o perdão se torna uma realidade concreta; sem aquela, só nos limitaríamos a firmar pactos de boa convivência. Amar os inimigos não é se ocupar desse tipo de pacto, mas tê-los na oração. Quando não conseguirmos amar dessa forma, façamos a experiência de trazer à memória o momento da cruz de Jesus. Lá no Calvário, Ele amou a todos, amou os pecadores, os santos, os hipócritas, e amou os seus inimigos que o crucificaram. Ele nos amou até o fim!
A fé cristã é exigente, ela sempre nos pedirá o compromisso com a caridade, com o amor que se dá até o fim, ainda que julguemos que nossos inimigos não o mereça. Mas quem somos nós para decretar a perda total de nossos inimigos? Diante do evento da cruz de Jesus aprendemos a grande lição do amor que somos devedores para com quem nos ofendeu. Quem se aproxima da mesa da Palavra e da Eucaristia, não pode estar estranho aos irmãos; não podemos tratá-los como inimigos, mas como irmãos em Cristo.
Que a força do Evangelho de Cristo sempre nos disponha ao trabalho concreto da caridade! E que as graças do ano jubilar nos encontre solícitos na missão no meio de todos os irmãos e irmãs.