Dom Manoel Delson Pedreira da Cruz, arcebispo metropolitano da Paraíba
Neste 24 de junho, celebramos a Solenidade do Nascimento de São João Batista. Depois da Virgem Maria, o Batista tem a exclusividade de ser o único santo do qual a Igreja celebra a sua natividade. São João Batista tem a sua missão intimamente ligada ao Mistério Salvador da Encarnação de Nosso Senhor. Os evangelistas são unânimes em apresentá-lo como o precursor do Filho de Deus; ele é mostrado como o profeta que encerra o Antigo Testamento e inaugura o Novo Testamento. Tem a missão de ser uma voz forte que aponta a chegada da salvação de Deus para todos.
O Papa, em uma de suas homilias sobre o precursor, afirma que “João é o provisório e Jesus é o definitivo. João é o provisório que indica o definitivo”. Ele é o dedo que indica o Filho de Deus, nosso Salvador. Em tempos que ostentam tanto autorreferencialismo, a missão de João Batista faz-nos pensar demoradamente no que de fato consiste a vida cristã: pertencer a Cristo sem prender-se a si. Um grande desafio diante de nossos olhos!
O mistério da vida e missão de João Batista consiste em ser o dedo que aponta Deus. Ele em tudo nos aponta Cristo. A sua grandeza consiste em ser provisório, passageiro. Ele sabe que sua missão só faz sentido porque vive para servir o Outro. E em seu caos, esse Outro é o próprio Deus encarnado em Jesus. Ele é o “profeta” do “Não sou eu. Outro virá”. O Papa Francisco ainda nos ensinando sobre o “nunca prender-se a si” diz que, “João preparava o caminho para Jesus sem tomar nada para si. Era um homem importante: as pessoas o procuravam, o seguiam porque as suas palavras eram fortes. Suas palavras chegam ao coração. E João teve, talvez, ‘a tentação de se achar importante, mas não caiu nela’. De fato, quando os doutores foram lhe perguntar se ele era o Messias, João respondeu: ‘Eu sou voz, somente voz’, mas ‘vim preparar o caminho para o Senhor’. Eis a principal qualidade do nosso santo, a de preparar um povo novo, levando-o ao encontro com o Senhor. Os santos nunca trazem as pessoas para si, não são autorreferencialistas, são conscientes que não passam de meros instrumentos nas mãos do Senhor.”
O nosso “Viva São João” deve ser acompanhado dessa mesma preparação, nos alegramos neste tempo porque também queremos levar as pessoas ao encontro de Jesus. Levá-las ao Evangelho e à prática constante da caridade. A alegria do cristão deve pautar-se sempre no encontro da fé. Na casa de João Batista, reinava o Espírito Santo, seu pai, Zacarias, animado por esse mesmo Espírito, chegou a fazer uma grande afirmação missionária: “E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás adiante do Senhor a preparar seus caminhos. Para dar a conhecer ao Seu povo a Sua salvação pela remissão dos pecados” (Lc 3,1-6). Percebemos aqui um lar marcado pela espera do Senhor, e mais, todos naquela casa esperavam o Salvador com alegria, e viam em seu recém-nascido, um sinal de que Deus guardava o seu povo em suas bondosas mãos.
No lar da família de São João Batista, o valor da vida reinava. A vida desde sua concepção até o seu declínio natural. Diante de tantos “assaltos” insistentes sobre o valor inegociável da vida, principalmente, da vida de inocentes, dos que não conseguem se defender, a Igreja continua reafirmando o valor da vida. A Igreja não admite o aborto sob nenhuma hipótese. Mas também a Igreja defende a vida da mãe e da criança diante dessa escalada da cultura de morte que tenta se estabelecer em nosso país. A mãe e a criança são igualmente importantes. Não há uma vida com menos valor!
Celebramos a Natividade de São João porque também nos alegramos com o Senhor que chega em nossos corações quando nos aproximamos da Sua Palavra e da Eucaristia. Sejamos como João Batista, que sempre aponta para Cristo!