Dom Manoel Delson Pedreira da Cruz, arcebispo metropolitano da Paraíba.
Na última quinta-feira, depois do Domingo da Santíssima Trindade, a Igreja Católica celebrou a grande festa de Corpus Christi. Esta solenidade nasce e se desenvolve a partir do mistério da Páscoa e de Pentecostes: O Cristo Ressuscitado dos mortos derrama sobre a humanidade inteira seu Espírito. O Senhor mostra-Se publicamente cheio do Espírito; e por onde passa Sua presença vai abençoando a todos quantos orientarem seus corações para Ele. Troca nosso coração de pedra por um coração novo e de carne.
Essa festa solene da liturgia da Igreja expressa publicamente o amor que devotamos à Santíssima Eucaristia, dando-nos seu corpo e sangue santos. Em todos os domingos com a celebração da Missa nas paróquias, nós, católicos, somos alimentados pela Eucaristia. O Papa Francisco, em uma de suas falas sobre a Eucaristia, nos ensina que ela “chama-nos à primazia de Deus e ao amor aos irmãos. Este Pão é, por excelência, o Sacramento do amor. É Cristo que se oferece e se parte por nós e nos pede que façamos o mesmo, para que a nossa vida seja trigo moído e se torne pão que alimenta os irmãos”.
O sacrífico da Missa tem muitas lições a nos oferecer. E o maior ensinamento diz sobre o amor extremo de Cristo. O amor do Senhor manifestado a todos os homens e mulheres é expressado em sua morte na cruz. Ele assume nossa carne ferida e a redime: “na Eucaristia se comunica o amor de Deus por nós: um amor tão grande que nos alimenta com o Seu próprio ser; amor gratuito, sempre disponível a cada pessoa com fome e necessitada de revigorar suas forças. Viver a experiência da fé significa deixar-se nutrir pelo Senhor e construir a própria existência não sobre bens materiais, mas sobre a realidade que não perece: os dons de Deus, a Sua Palavra e Seu Corpo.”(Papa Francisco).
A Eucaristia é um dom supremo que atesta o amor de Jesus por nós, mas nos solicita ao amor mútuo. Só pode se aproximar realmente do Pão Eucarístico quem busca ter a Deus como o primeiro sem se esquecer de amar os irmãos.
Na Festa de Corpus Christi, seguimos Jesus na Eucaristia pelas ruas, fazendo para Ele uma escolta de amor. Essa escolta tem exigência missionária, chama-nos para a evangelização do mundo. Guardamos Aquele que, desde sempre, já guardou nosso coração das más inclinações e do pecado, mas também nos guarda e nos impede de fazer guerra contra os nossos irmãos. A Eucaristia tem consequências missionárias. O Senhor espera que O escoltemos e isto se dá quando buscamos viver com fidelidade o Evangelho e praticamos as virtudes no ordinário de nossa vida. A vida eucarística, da qual brota nosso ser missionário no coração do mundo, livra-nos “das tentações do alimento mundano que nos torna escravos; purifica a nossa memória, para que não permaneça prisioneira na seletividade egoísta e mundana, mas seja memória viva de tua presença na história de seu povo, memória que se faz ‘memorial’ do teu gesto de amor redentor”(Papa Francisco). Com Jesus na Eucaristia, a Igreja é alimentada para a vida do mundo. Ela não tem a missão de ficar ensimesmada, mas foi chamada pelo próprio Senhor para avançar pelas estradas da humanidade.
O dom da Eucaristia é o maior tesouro que possuímos. É o dom que alimenta e cura o sofrimento do mundo. O que precisamos fazer é somente abrimo-nos inteiramente ao Senhor e Ele estenderá seu amor sobre nós. Esse amor é tão urgente que, antes que estendamos nossas mãos, suas sagradas mãos nos abençoam e nos cura.
Depois de tantas festas litúrgicas celebradas recentemente, passemos com esperança para o tempo comum. Um tempo de nos aproximar do Senhor e de seu apostolado de amor no meio do povo. Que a Virgem Santíssima nos ajude a sempre nos aproximar do Senhor sem estar distante dos nossos irmãos.