Na tradição bíblica, Nosso Senhor costuma nos ensinar através de parábolas. E uma das mais belas parábolas é a do Semeador. Proclamada nas Missas deste domingo: “uma grande multidão reuniu-se em volta dele. Por isso, Jesus entrou numa barca e sentou-se, enquanto a multidão ficava de pé, na praia. E disse-lhes muitas coisas em parábolas: O semeador saiu para semear.” (Mt 13,2-3). O que tem a ver a atitude do Semeador com a nossa vida concreta de discípulos e missionários de Jesus? A figura daquele que semeia diz sobre a missão do Senhor, que sempre está pronto a semear Sua Palavra em nossos corações.
A parábola do Semeador, de uma certa forma, “trata-se de uma página ‘autobiográfica, porque reflete a própria experiência de Jesus, da sua pregação: Ele identifica-se com o semeador, que difunde a boa semente da Palavra de Deus, e dá-se conta dos vários efeitos que ela alcança, segundo o tipo de acolhimento reservado ao anúncio.” (Papa Bento XVI). Para o Papa, falecido recentemente, há os fiéis que se ocupam de escutar a Palavra de Deus, superficialmente. Portanto, não são capazes de acolherem essa Palavra. O Papa Bento XVI ainda diz: “há outros que a recebem no momento, mas não têm constância e perdem tudo; há depois aqueles que são dominados pelas preocupações e seduções do mundo; e há enfim quantos ouvem de modo acolhedor, como o terreno bom: aqui a Palavra produz fruto em abundância.”
O Papa Francisco diz que essa parábola “nos recorda que somos a terra onde o Senhor incansavelmente lança a semente da Sua Palavra e do Seu amor. Com quais disposições o acolhemos? Como é o nosso coração? Com qual tipo de terreno se parece: um caminho, uma pedreira, um arbusto? Depende de cada um de nós tornar-se um terreno bom sem espinhos nem pedras, mas lavrado e cultivado com cuidado, de modo que possa trazer bons frutos para nós e para os nossos irmãos.” A acolhida da Palavra de Deus em nossas vidas é a condição para fazer frutificar as boas sementes do Evangelho. Sementes estas que cultivam no coração humano e nas sociedades a bondade, honestidade, fraternidade, respeito pelas liberdades…
A terra do nosso coração não pode ser uma terra superficial, que pretenda ouvir o Evangelho sem encarná-lo na vida concreta da família e do mundo do trabalho. As lutas que travamos são muitas, mas não podemos permitir que as inconstâncias da vida nos sufoquem e nos tirem da escuta interior da Palavra de Deus. O Semeador quando lança as sementes da fé, Ele nos torna também semeadores: “nos fará bem não esquecer que também nós somos semeadores. Deus semeia sementes boas, e também aqui podemos perguntar-nos: que tipo de semente sai do nosso coração e da nossa boca? As nossas palavras podem fazer tanto bem e também tanto mal, podem curar e podem ferir, podem encorajar e podem deprimir” (Papa Francisco).
Em tempos tão marcados pelo ódio e divisões, tenhamos corações com a terra boa do Evangelho. Uma terra que faz fecundar em todos os lugares as sementes de bondade e justiça. O Reino de Deus é Jesus em nosso meio. Ele conta com o nosso discipulado engajado, conta com a “terra boa” de um coração cheio de fé e dos valores do seu Evangelho.
Todo discípulo e missionário de Nosso Senhor preocupa-se de fazer do coração um espaço propício para acolher a Palavra de Jesus. Acolher com a própria vida. O Senhor lança as suas sementes em nosso meio, e não podemos deixar que essas sementes caiam fora de nossas vidas. Ser discípulo de Jesus comporta o exigente e feliz caminho de conversão. Acolher a semente do Evangelho significa resposta de conversão. Significa caminhar com o Senhor aonde quer que Ele vá.
Peçamos, portanto, à Virgem Maria, a alta terra boa do Evangelho, que nos ensine a ter um coração que acolha fecundamente as sementes da fé e que nossa presença no mundo seja um sinal da inegociável ação transformadora do Evangelho de Cristo: “a semente que caiu em boa terra é aquele que ouve a palavra e a compreende. Esse produz fruto. Um dá cem, outro sessenta e outro trinta” (Mt 13,23). E jamais nos esqueçamos que Cristo, o Semeador do Pai, continuar a semear nos dias atuais. E ele quer contar com a terra boa do nosso coração!