Com Cristo no último lugar

Ao longo de sua vida pública, Nosso Senhor sempre nos ensinou que a sua missão redentora no mundo não estava reservada somente a Si, mas estendeu-se sobre seus apóstolos, e chegou até nós: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita. Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos.”  (Lc 10,2-3) Vemos aqui claramente que o Senhor quer contar com todos. No campo de Deus, há trabalho para todos. Não importa o momento que chegamos na messe do Senhor. O envio missionário nos habilitará para uma presença pacífica no coração da humanidade: “Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos” (Lc 10,18). Apesar das muitas contrariedades que surgiram ao longo da história e as que ainda virão, devemos transmitir inquestionavelmente a mensagem de paz em todas as circunstâncias. O mal não nos atingirá!

Com o encerramento do mês vocacional, devemos encher nosso coração com a esperança de ajudar construir um mundo marcado pela presença do Redentor. O serviço das vocações na vida da Igreja, tem esse grande objetivo: ajudar Jesus a salvar o mundo! Na Igreja aprendemos a amar, educando-nos para a gratuidade do amor ao próximo, especialmente aos mais pobres e aos últimos. Quando nos colocamos à serviço destes, as páginas do Evangelho de Cristo ganham vida na história.

Tudo que fazemos na vida, esperamos os frutos, e não seria diferente com a atividade missionária a qual somos chamados a desenvolver nesta vida. Contudo, sabemos que o nosso agir evangelizador vem precedido da graça de Deus. Nada fazemos sem contar com ela; tudo que fazemos pelo Senhor e pelos nossos irmãos, devemos antes suplicar referida graça. Uma outra coisa devemos pedir ao Senhor, o sadio entusiasmo, o mesmo que fora dado aos primeiros discípulos de Jesus: “(…) não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu.” (Lc 10,20) Somos todos missionários de Cristo, devemos a todo custo empenhar-nos em levar sua mensagem salvadora pelos confins da terra. O mal sempre nos rondará, mas temos a esperança que é capaz de exorcizá-lo do nosso caminho missionário. Os discípulos de Jesus jamais deverão temer o mal, pois vivem da providência de Deus e sabem que O Seu reino avizinha-se (Lc 10,11).

Em tempos tão desafiadores que vivemos, o Senhor continua a lançar o convite a segui-Lo. A esperança move-nos! A messe do Senhor também nos espera neste contexto de muitas lutas e dificuldades. Não podemos nos acomodar, Cristo nos chama a levar Seu amor às pessoas que se encontram desanimadas. E, como Igreja, não podemos nos esquivar de nossa parte na missão. O Reino de Deus começa na terra quando os discípulos se colocaram em saída pelo mundo sob as pegadas do Redentor, seguiram-No com um estilo de vida simples: “Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! (…) Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa. (…) Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem.” (Lc 10, 4.7-8). Eis o segredo que transformará o mundo: ser um outro Cristo com alegria entre os homens! E seremos um outro Cristo quando, absolutamente, assumirmos o último lugar.

Dom Frei Manoel Delson
Arcebispo da Paraíba