Bento XVI: o humilde servo da Vinha do Senhor e a pregação da Verdade.

Joseph Aloisius Ratzinger foi eleito Papa em 19 de abril de 2005 e governou a barca de São Pedro até 2013. Ratzinger foi eleito o 265º Papa da história da Igreja e teve o grande desafio de substituir o Papa João Paulo II.  

Nascido em 16 de abril de 1927, em Markl am Inn, Baviera, no sul da Alemanha, Joseph Aloisius Ratzinger foi contemporâneo do desenvolvimento do nazismo e do projeto de expansão de Adolf Hitler. A família Ratzinger sofrera o impacto do regime totalitarista de Hitler e permanecia fiel a experiência católica.

Em 1939, entrou para o Seminário Menor em Traunstein. Contudo, o início da Segunda Guerra Mundial fez com que o jovem da Baviera fosse obrigatoriamente incorporado a juventude hitlerista. Em 1945, o jovem tornou-se desertor e foi preso por soldados americanos. Após meses como prisioneiro, Ratzinger foi libertado e retornou à formação sacerdotal no Seminário de Munique.

Em 1951, Joseph foi ordenado sacerdote e no ano seguinte iniciou suas atividades como professor de teologia. Em 1953 obteve seu primeiro doutoramento em teologia aprofundando os estudos sobre a Eclesiologia de Santo Agostinho.

Ratzinger lecionou em várias cidades da Alemanha e participou do Concílio Vaticano II (1962-1965) como especialista em teologia. Com tal experiência, Ratzinger tornou-se um dos importantes intérpretes do Concílio Vaticano II na Europa durante os anos 1960 e 1970.

Em 1977, Ratzinger foi sagrado bispo e posteriormente tornou-se Cardeal. Na sua condição de Cardeal, o prelado exerceu as funções de Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional.

Seu zelo pela ciência teológica fez com que o Cardeal fosse reconhecido como um dos mais importantes teólogos da contemporaneidade. Além do aprofundamento teológico, Ratzinger falava várias línguas tais como italiano, francês, inglês, espanhol, latim, grego antigo e hebraico bíblico.

Durante o Pontificado do Papa João Paulo II, Ratzinger exerceu importantes funções e aproximou-se do papa polonês como um verdadeiro amigo e confidente.  Diante da expansão do secularismo, o Cardeal buscou refletir sobre a centralidade da verdade e sobre a união entre fé e razão. O prelado realizou importantes conferências sobre o secularismo e a Era Neopagã na sociedade ocidental. Em 2005, Ratzinger foi eleito Bispo de Roma escolhendo para si o nome de Bento XVI. A escolha do nome Bento (Benedictus) evoca São Bento de Núrsia, patrono da Europa e do monaquismo no Ocidente. A tradição beneditina tornou-se referência na formação da cultura ocidental durante o período medieval. Os mosteiros medievais tornaram-se luzeiros que modificaram a paisagem europeia e se consolidaram como anunciadores de tempos de paz em meio à barbárie. Desse modo, para o Sumo Pontífice, o nome Bento seria capaz de evocar o estabelecimento de concórdia, comunhão e amor em meios aos desafios presentes na pós-modernidade.

Em seu primeiro pronunciamento, Bento XVI se definia como “um simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor” e pedindo a oração dos fieis afirmava que Deus sabe também trabalhar com “instrumentos insuficientes”.

De acordo com Bento XVI, seu pontificado deveria estar a serviço de Cristo. “O meu verdadeiro programa de governo é não fazer a minha vontade, não perseguir ideias minhas, pondo-me, contudo, à escuta, com a Igreja inteira, da palavra e da vontade do Senhor e deixar-me guiar por Ele, de forma que seja Ele mesmo quem guia a Igreja nesta hora da nossa história”.

Durante seu pontificado, Bento XVI pautou suas ações e textos a partir do anúncio da verdade e a vivência das virtudes teologias (fé, esperança e caridade). Em 2005, na Carta Encíclica Deus Caritas est (Deus é amor), Bento XVI destaca que o cristianismo é um encontro com a Pessoa de Jesus de Nazaré e retomando o pensamento agostiniano ressaltava que “quem contempla a caridade contempla a Trindade”. Em 2007, Bento XVI escreveu a Carta Encíclica Spe Salvi (A Esperança Salva). Retomando a teologia paulina, Bento XVI destaca que na Esperança fomos salvos. Em 2009, o Papa escreveu a Carta Encíclica Caritas in Veritate (Caridade na Verdade). Para o papa, a caridade na verdade é a força que impulsiona o desenvolvimento da pessoa e de toda a humanidade. Na ocasião, o papa destacou a importância da Doutrina Social da Igreja para resolução dos problemas sociais e econômicos.

Em 2009, o Sumo Pontífice promulgou o Ano Sacerdotal e destacou a necessidade de novos presbíteros para a Igreja. Na ocasião, o Papa recordou aos seminaristas sua experiência vocacional durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e destacou que o mundo necessita de sacerdotes e pastores.

Em 2012, Bento XVI realizou a abertura do Ano da Fé em comemoração aos cinquenta anos do Concílio Vaticano II e evidenciou a criação de um Conselho para a Nova Evangelização.

Em 2013, em um consistório, o Papa Bento XVI renunciou ao Ministério Petrino e retirou-se para dedicar-se integralmente à vida de oração. Na ocasião, Bento XVI estava com 85 anos de idade. A renúncia de Bento XVI foi interpretada não como um gesto de covardia, mas como expressão de sua humildade e amor à Igreja.

Após a eleição papal de Jorge Mario Bergoglio (Papa Francisco), a amizade entre ambos se fortaleceu. Francisco e Bento com eclesiologias distintas viveram a experiência de diálogo e comunhão fraterna em uma Igreja diversa em seus dons e experiências pastorais.

Após sua jornada nesse mundo, com 95 anos de idade, Bento XVI realizou sua Páscoa. Confiemos ao Senhor que acolha em seu Reino o Guardião da Fé, o Servidor da Verdade e o Pregador das Virtudes Teologais. Que aprendamos com Bento XVI a amar a Cristo, sua Palavra e a sua Igreja.

Diác. Vanderlan Paulo de Oliveira Pereira

Licenciado em História, Filosofia e Teologia, Especialista em Cristologia, Mestre em História e Doutor em Educação.