Não acumular

E agora, ricos, chorais e gemei! Eis o grande brado da Palavra de Deus que nos apresenta neste Domingo, por meio da Carta de São Tiago: “E agora, ricos, chorai e gemei, por causa das desgraças que estão para cair sobre vós. Vossa riqueza está apodrecendo, e vossas roupas estão carcomidas pelas traças” (Tg 5,1-2). A Palavra de Deus nunca condenou a riqueza, mas o seu mau uso em detrimento do socorro dos mais necessitados. Deus não admite o uso da riqueza de forma desonesta, depositando nossas seguranças no acúmulo de bens e no dinheiro.

A Igreja busca ensinar seus filhos a pautarem suas vidas através da sobriedade, e sempre com a atitude interior da generosidade e do esforço comum da caridade. Não é possível viver um cristianismo desatrelado do cuidado com os irmãos, principalmente, quando estes irmãos são desprovidos de dignidade. O acúmulo de bens adoece-nos e nos coloca na contramão daqueles que esperam nossas mãos estendidas.

Não podemos construir a casa da nossa vida sobre a rocha da ganância. Há quem acredite que o sentido da vida se sustenta no acúmulo de riquezas. Pessoas que passam todo o seu tempo na luta de conquistas desmedidas de dinheiro. O Papa Francisco diz: “O centro da vida não é mais o meu eu faminto e egoísta, mas aquele que nasce e vive por amor.” O amor deve ser a base de todas as atitudes humanas. Fomos criados por Deus para pôr em prática a capacidade de se dar, de amar. Há uma causa, vinda da cruz de Cristo, que perpassa nossos egoísmos, libertando-nos de nossos esquemas ensimesmados e que nos coloca a serviço dos outros!

O amor exige-nos o estar com os outros. E nossos bens, conquistados com honestidade, devem ser colocados a serviço dos mais necessitados. “Cristo não gosta de preguiçosos e sedentários. O Senhor ama ser esperado e não pode ser esperado no sofá, dormindo.” Não podemos construir a casa da nossa vida no entorno de nós mesmos e de nossas vontades. Não! O amor cristão é atitude que nos leva aos irmãos!

Com a Virgem Maria, o cristão que escuta atentamente a Palavra de Deus, consegue dar sentido a sua vida, e o faz pela via da caridade e solidariedade. No testemunho de Maria, a Igreja vai avançando no mundo, avançando com o jeito solidário e salvador de Cristo: tive fome e me deste de comer, tive sede e me deste de beber… Nossas mãos devem se revestir da caridade evangélica! Que as mãos da Virgem Maria, sempre prontas e estendidas aos irmãos, nos sustente quando o egoísmo e o desejo desenfreado pelo acumulo de bens nos comprometerem. Que seu apoio maternal seja grande ocasião de libertação de nós mesmos!

Dom Frei Manoel Delson
Arcebispo da Paraíba