Eis o tempo de conversão!

A Igreja celebra a Páscoa de Nosso Senhor todos os anos. Na verdade, em cada Missa somos imersos nesse mistério de redenção, com essa celebração cotidiana, tornamo-nos semelhantes a Cristo, acolhendo, pois, o dom inestimável vindo das mãos misericordiosas do Pai do céu: o dom de ser filho no Filho. O tempo solene da Páscoa é preparado pela vivência quaresmal. A quaresma é um tempo propício para prepararmos o coração para colher as alegrias da vida nova que brota do coração do Cristo Ressuscitado.

Todos os anos, antes de iniciar o tempo penitencial da quaresma, o Papa sempre nos brinda com uma mensagem especial para bem vivenciarmos esse caminho penitencial. Na Mensagem de 2023, o Papa toma como pano de fundo o Evangelho da Transfiguração, que será proclamado no II Domingo da Quaresma. Ele nos oferece um conceito simples, porém, profundo, sobre a quaresma: “a Quaresma é tempo de graça na medida em que nos pusermos à escuta d’Ele, que nos fala”. A escuta das coisas de Deus é uma exigência extremamente necessária para aprofundar a conversão do nosso coração. “Escutar Jesus na Palavra de Deus, que a Igreja nos oferece na Liturgia: não a deixemos cair em saco rasgado; se não pudermos participar sempre da missa, ao menos leiamos as Leituras bíblicas de cada dia valendo-nos até da ajuda da internet” (Papa Francisco).

Quando escutamos verdadeiramente ao Senhor, também nos dispomos a escutar nossos irmãos. Eis o esforço da caminhada sinodal que estamos vivendo em toda a Igreja. Estamos tão acostumados, lamentavelmente, a fazer prevalecer nossas ideias, que, quando somos convocados para a atenção da escuta do outro, sentimos grandes dificuldades. O tempo penitencial quaresmal também nos chama a essa escuta atenta. Escutar a Deus sem deixar de escutar nossos irmãos.
Neste I Domingo da Quaresma, a liturgia da Palavra proclamada nas missas, já nos oferece os pontos que marcarão a caminhada rumo a Páscoa. Trata-se de seguir Jesus decididamente rumo à cruz. A mensagem da cruz causa uma certa reserva para o homem moderno. A cultura, de maneira equivocada, nos deseduca ao sentido do sofrimento. Contudo, a Palavra de Deus nos ensina, e de maneira bastante clara, que, o caminho com Jesus nos dará a verdadeira felicidade, e esta, não é fruto da ausência de sofrimento.

A cruz, por mais pesada que se apresente, não pode ser tratada como um sinônimo de infelicidade, de desgraça a ser evitada a todo custo. Devemos aproveitar de todas as situações da vida para amadurecer no seguimento de Jesus. Na alegria ou na dor, sempre pertencemos ao Senhor!
É importante entender, ainda no início da caminhada quaresmal, que esse percurso deve ser realizado com Jesus. Entrar na quaresma seguindo a cruz de Jesus. Iremos enfrentar o mal junto com Jesus, e nunca sozinhos. Ao longo da quaresma, nasce no caminho do discípulo de Jesus a chamada para a restauração de nossa fisionomia cristã, através do arrependimento e de um autêntico pedido de perdão a Deus. Somos motivados a uma renovação profunda da vida interior.
A verdadeira vida interior só pode ser cultivada com a largueza da oração. O próprio Jesus sentiu a necessidade de rezar sempre. “Jesus orava como todas as pessoas do mundo. E, no entanto, no seu modo de rezar, havia também um mistério, algo que certamente não escapava aos olhos dos seus discípulos” (Papa Francisco). O primeiro passo para rezar bem é ser humilde. Devemos bater no peito e fazer da nossa oração um prolongado ato penitencial. Reconhecer-nos pecadores diante da grande misericórdia do Pai.

A oração litúrgica da Igreja é modelo para a oração pessoal de cada fiel. Quando imitamos a maneira confiante de rezar da Igreja aprendemos a ter uma vida de oração mais fecunda e confiante. Com a Igreja, aprendemos que a oração não é um campo de batalhas que pretende fazer prevalecer as nossas vontades, ao contrário, uma oração verdadeira é humilde e paciente. Como é bom colocar-se nas mãos bondosas de Deus e Dele esperar os rumos da nossa vida. O Senhor é sempre Bondoso. Ele não nos trata como merecemos, mas nos apresenta sempre a oportunidade de recomeçar.


Façamos deste tempo penitencial um lugar de encontro com Deus. Encontro das nossas misérias com o amor de Deus que habitualmente nos convida a um caminho estreito de conversão. Estejamos atentos, afinal, são muitas as tentações que se colocam perante o caminho para o Senhor. Se rezarmos com o coração e a coerência de vida, venceremos as tentações, e venceremos porque Jesus foi o primeiro a vencer as artimanhas do Tentador, no início de sua quaresma no deserto.


Ajude-nos à Mãe de Misericórdia, a Santíssima Virgem Maria, neste caminho de purificação para a Páscoa de Seu Filho, Jesus. Que a oração fecunda de Maria nos proteja, principalmente, quando o caminho penitencial se tornar pesaroso. Sigamos juntos, o caminho está apenas começando, mas Cristo já venceu o pecado e a morte.