Dom Vital, que pode vir a ser o primeiro santo paraibano, ganha estátua em Pedras de Fogo

O dia 12 de julho marcou os 150 anos da sagração episcopal de Dom Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira, OFMCap. A cidade de Pedras de Fogo, terra natal de Dom Vital, através da Paróquia Santuário de Nossa Senhora da Conceição, inaugurou uma estátua em homenagem ao 20º bispo de Olinda que está em processo de canonização. A inauguração da estátua aconteceu no fim da tarde desta terça-feira, com a presença do arcebispo da Paraíba e confrade de Dom Vital, Dom Manoel Delson, bispos e padres da Paraíba e de Pernambuco.

Dom Vital viveu na segunda metade do século XIX, foi um grande defensor da fé que lutou bravamente contra a invasão maçônica na Igreja. “Somos gratos a Deus pelo seu exemplo de fidelidade à Igreja e sua coragem de anunciar o que a Igreja pedia, mesmo tendo que pagar o preço da prisão e se ver impedido de pastorear seu rebanho”, declarou Dom Delson.

A estátua tem 4 metros de altura e foi moldada em cimento e resina pelas mãos do artista Paulo Xavier. Está erguida na entrada da cidade, próximo ao pórtico de Pedras de Fogo. O responsável pela obra, o pároco do Santuário, Pe. Pedro Targino, falou sobre o dia que ele considera histórico. “Este foi um dia histórico para a Igreja de Pedras de Fogo e de toda Paraíba. O sentimento é de gratidão a Deus e a todos. O povo está radiante, alegre com a estátua do seu ‘santo’. Dom Vital merece, ele é o maior exemplo de católico que defendeu a fé da Igreja, dando a própria vida pela causa”, afirma.

Após a inauguração da estátua, foi celebrada uma missa com a presidência de Dom Delson e a concelebração dos bispos confrades de Dom Vital (Ordem dos Frades Menores Capuchinhos) Dom José Ruy (Caruaru) e Dom Pepeu (emérito de Vitória da Conquista), também pelo bispo auxiliar de Olinda e Recife, Dom Limacêdo, além de padres da arquidiocese da Paraíba, de Olinda e Recife e da diocese de Nazaré.

Também está sendo preparada uma galeria com peças e fotografias que contam a história de Dom Vital. “Estamos preparando mais este espaço para o filho especial de Pedras de Fogo, para que todo povo possa conhecer a fundo e se orgulhar daquele que, se Deus assim quiser, será o primeiro santo nascido em terras paraibanas”, conta Pe. Pedro. A galeria ficará no Auditório Dom Vital, localizado no Centro Social da Paróquia.

HISTÓRIA

Nascido em Pedras de Fogo no ano de 1844, Dom Vital, desde criança, esteve envolvido com as atividades religiosas. Ele encontrou em casa o exemplo: tanto a mãe Antônia Albina de Albuquerque quanto o pai Antônio Gonçalves de Oliveira eram católicos fervorosos. O menino teve contato com o frei Serafim de Catânea, que passou pelo município e foi o construtor do imponente Santuário que fica no centro da cidade. Vem daí sua vocação franciscana.

Antônio, nome de batismo de Vital, estudou no Colégio do Benfica, em Recife, entrou para o Seminário de Olinda e terminou a sua formação na França. De lá, Dom Vital retorna para o Brasil e ensina filosofia em São Paulo. Após um curto período na função, é nomeado Bispo de Olinda por Dom Pedro II e confirmado pelo Papa Pio IX. Na época, o Brasil vivia o regime do Padroado, onde Estado e a Igreja se confundiam e mantinham uma relação extremamente próxima. Frei Vital recusou a nomeação, mas por obediência ao Papa assumiu o bispado.

Ao assumir a Diocese de Olinda, Dom Vital vai encontrar infiltração da Maçonaria no clero e nas irmandades; na época eclodiu no Rio de Janeiro o conflito que ficou conhecido como a Questão Religiosa. O Bispo carioca, Dom Pedro de Lacerda, amigo de Dom Vital, que o havia sagrado bispo na Catedral de São Paulo recentemente, entrou em conflito com a Maçonaria Fluminense e perdeu a luta.

É importante realçar que a Igreja Católica “condena” a Maçonaria desde o século XVIII e diversos Papas escreveram oficialmente dizendo que não é possível que um católico seja maçom nem vice-versa.

Era exatamente esse o problema. A Igreja estava cheia de maçons, inclusive Padres, e Dom Lacerda se levantou contra isso, seguindo o que ensina Roma. Dom Vital fez o mesmo em Olinda: lembrou aos diocesanos que não há compatibilidade entre a fé católica e a Maçonaria. Quem quisesse ser maçom não poderia ser católico nem o contrário também não poderia ser possível. Os maçons reagiram.

No entanto, apesar de ser um jovem Bispo de 28 anos, Dom Vital foi firme, não recuou e enfrentou o problema. O conflito envolveu o Império brasileiro, recheado de maçons, do Chefe dos Ministros ao Supremo Tribunal de Justiça, atual STF.

O Bispo foi perseguido, preso, condenado. Mas não recuou e manteve as decisões em relação às associações maçônicas. Ele cumpriu pena no Rio de Janeiro. Tendo sido condenado a 4 anos de prisão e trabalhos forçados, teve a pena abrandada para prisão e reduzida para dois anos por causa da pressão social em favor do religioso franciscano.

Ao ser liberto, Dom Vital vai a Roma e tem diversas audiências com o Papa Pio IX, sempre recebido afetuosamente e com admiração pelo pontífice. Sua Santidade “aprovou todas as decisões de Dom Vital na Questão Religiosa”. O prelado ficou conhecido como o Atanásio Brasileiro pela postura apologética, que lembrava o grande defensor da fé dos primeiros séculos.

O Bispo de Olinda retornou ao Brasil, mas a sua saúde não estava em boas condições devido aos maus tratos e um suposto envenenamento. Retorna para a Europa com o objetivo de se tratar, mas acaba morrendo na França. É reconhecido e admirado na Inglaterra, França, Itália e Brasil como um herói da fé.

Hoje seus restos mortais se encontram na Basílica da Penha, no Recife, lugar administrado pelos seus confrades capuchinhos do Nordeste.

Sua causa de Beatificação encontra-se na fase final e é acompanhada pelo frei Jociel Gomes, que está em Roma para melhor guiar o processo que pode fazer surgir o primeiro Santo da Paraíba.