Conselho Permanente da CNBB reflete sobre polarização na Igreja e dá encaminhamentos para 60ª AG

O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) iniciou, na manhã de ontem quarta-feira, 22 de março, o segundo dia de reunião, na sede da entidade, em Brasília (DF). Na pauta, temas como a análise de conjuntura eclesial e a preparação para a 60ª Assembleia Geral da CNBB. Ainda durante a manhã foi aprovado o envio de uma ajuda humanitária à comunidade tradicional do Maranhão atingida por uma série de atentados nos últimos dias.

Polarização na Igreja

A primeira atividade da reunião foi a apresentação da Análise de Conjuntura Eclesial, preparada pelo Instituto Nacional de Pastoral Padre Alberto Antoniazzi (INAPAZ). Padre Geraldo De Mori, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, apresentou a primeira parte da análise de conjuntura Eclesial sobre a polarização na Igreja, propondo refletir sobre as ameaças à comunhão Eclesial no atual contexto sociopolítico e pastoral.

Ele situou o contexto da relação entre política e religião após o período de redemocratização do Brasil, com destaque ao uso religioso da política. Também pontuou os efeitos das manifestações populares de 2013 e a força dos influenciadores digitais também com discursos religiosos. Na Igreja Católica, a análise do INAPAZ observou grupos sensíveis às pautas de costumes, os quais se identificaram com esses discursos. “Tudo isso faz parte de um cenário mais amplo e ajuda a entender de onde surge a polarização na Igreja”, explicou padre De Mori.

No interno da Igreja, a análise tomou o contexto da recepção do Concílio Vaticano II, favorecido pelos grupos ligados à Ação Católica e contraposto por figuras e grupos que propunham um catolicismo mais devocional e piedoso, ressignificado mais tarde pelo pentecostalismo.

Da contraposição considerada frutífera entre os chamados “progressistas” e “conservadores”, a Igreja está num contexto em que grupos usam das mídias digitais para a “luta contra as tendências que ‘corromperam o catolicismo’” e para a promoção de um “tradicionalismo e imaginário da idade média” que ganharam importância e visibilidade nos últimos anos.

Os bispos refletiram sobre os pontos apresentados e fizeram indicações para os próximos trechos da análise que serão consolidados e discutidos pelo conjunto do episcopado.

Padre Geraldo De Mori participou de forma remota | Foto: Luiz Lopes Jr/CNBB

60ª Assembleia Geral da CNBB

Marcada para o período entre 19 e 28 de abril, em Aparecida (SP), a 60ª Assembleia Geral da CNBB também ganhou destaque nesta manhã. O subsecretário adjunto geral da CNBB, padre Patriky Samuel Batista, apresentou as linhas gerais do encontro, como temas já inseridos na pauta e horários de sessões, missas e outras atividades.

Os bispos também discutiram sobre o Regimento Interno da CNBB, que deve ser aprovado após a confirmação pela Santa Sé do Novo Estatuto da Conferência. O texto já foi enviado aos bispos e será apreciado e aprovado na 60ª AG CNBB. O texto aprovado na assembleia já entrará em vigor, sem necessidade de encaminhar para aprovação da Santa Sé.

A reunião do Conselho Permanente também é oportunidade para que os bispos façam os testes no sistema de votação que será utilizado nas eleições da nova Presidência da CNBB e dos presidentes das Comissões Episcopais, bem como dos representantes da CNBB no Sínodo e no Conselho Episcopal Latino Americano (Celam).

Outros assuntos foram discutidos ao longo do dia Campanha Nacional de difusão do filme “A Carta”, informe sobre a racém criada diocese de Araguarina (TO), informes sobre Plano Trienal “Ao Seu Lado” e Jornada Mundial da Juventude, projeto de sustentabilidade do Colégio Pio Brasileiro, informe sobre o percurso brasileiro no Sínodo 2021-2024, o processo da adoção da 3ª tradução do Missal Romano na Igreja no Brasil após aprovação da Santa Sé e o estudo sobre vestes litúrgicas a partir das normas litúrgicas.

Ajuda humanitária

O bispo de Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora, dom José Valdeci Santos Mendes, partilhou com os demais membros do Conselho Permanente a situação vivida pela comunidade tradicional Baixão dos Rocha, no município de São Benedito do Ouro Preto (MA), diocese de Brejo (MA). O conflito entre camponeses e empresas que reivindicam as terras da comunidade tradicional foi intensificado nos últimos anos e chegou ao ponto de homens armados incendiarem casas e expulsarem moradores. Dom Valdeci lamentou a “truculência que está acontecendo nas comunidades” e leu uma nota preparada pela diocese de Brejo.

Dom José Valdeci partilha situação de comunidade atacada no Maranhão | Foto: Luiz Lopes Jr/CNBB

Pela situação de vulnerabilidade das famílias, os membros do Conselho Permanente aprovaram o envio de 100 mil reais para apoiar as famílias.

CNBB