Dom Frei Manoel Delson Pedreira da Cruz, OFMCap
A morte não tem a palavra final sobre nossas vidas. A comemoração dos fiéis defuntos, ou o chamado Dia de Finados, é uma ocasião para renovarmos nossa esperança na vida eterna. “Jesus revolucionou o sentido da morte. Fê-lo com o seu ensinamento, mas sobretudo enfrentando Ele próprio a morte.” (Papa Bento XVI). Para os cristãos, há um sentido evangelizador também na experiência da morte. Em uma de suas mensagens no Dia de Finados, o Papa alemão chamou-nos à iniciativa de evangelizar a realidade da morte e da vida eterna.
Neste dia, nosso olhar se volta para o pensamento de como será o nosso fim sobre a terra, mas nunca sem perder a esperança do céu. Olhamos para a realidade inevitável da morte à luz da Ressurreição de Cristo. Neste Ano Jubilar, a esperança, tão meditada, fala-nos das realidades futuras, do mistério que se segue à morte. Portanto, não devemos ter medo de pensar e rezar diante do mistério da morte.
Por qual motivo vamos piedosamente ao cemitério neste dia? Vamos, antes de tudo, para rezar pelos entes queridos que nos precederam na fé. É uma forma de sentirmo-nos próximos deles, recordando também, dessa maneira, um artigo do Credo que professamos: “Creio na comunhão dos santos.” A revolução que Cristo faz ao desafiar e vencer a morte não é igual as revoluções pretendidas pelas ideologias que ferem a liberdade humana e que torna-nos inimigos dos nossos irmãos. Àquela trata de nos comunicar o dom da vida eterna. Cristo venceu a morte para reabrir as portas do céu a todo homem que crê. Aqui está o sentido magnifico dessa revolução que só Deus pode fazer na história. Poderíamos afirmar que Nosso Senhor nasce entre os homens para poder morrer. E “quem se compromete a viver com Ele é libertado pelo receio da morte, que já não mostra o escárnio de uma inimiga, mas, como escreve São Francisco no Cântico das criaturas, o rosto amigo de uma “irmã”, pela qual se pode também bendizer ao Senhor (…)” (Papa Bento XVI).
Tão recentemente, o Papa Leão meditou sobre a morte a partir da realidade da morte da alma. Para ele, devemos temê-la mais do que a morte corporal: “para Deus, que é Vida eterna, a morte do corpo é como um sono. A verdadeira morte é a da alma: essa, sim, devemos temer!”
A Solenidade de Todos os Santos, proximamente celebrada no dia de Finados, convida-nos solenemente à elevação dos nossos olhos e corações ao céu. A santidade é sempre uma chamada universal, todos os homens e mulheres são chamados a fazer plena comunhão com Deus. Esta comunhão não é somente vertical, somente com Deus, mas toca nossa relação com as pessoas que nos cercam. Os santos foram homens e mulheres que caminharam para Deus sem se afastar dos homens; eles tornaram-se vizinhos dos mais pobres e sofredores. A comunhão dos santos é uma realidade que contemplamos também na comunhão que nos propomos a realizar em nossas relações ordinárias nesta vida ainda. A revolução de Cristo, ao sair vitorioso da morte, também aparece quando amamos quem está do nosso lado e fazemos comunhão, ainda que nossas ideias e pensamentos sejam divergentes.
Aproveitemos estes dias de profundas meditações para reavaliar nossas condutas e peçamos a Nossa Senhora, Aquela que não conheceu a corrupção da morte porque não pecou, que nossa existência seja um prelúdio das coisas eternas que estão por vir. E que o Bom Deus, que nunca deseja a morte do pecador, mas que ele se converta e viva, nos conceda um dia habitar com Ele na Pátria Eterna.
