Dom Frei Manoel Delson Pedreira da Cruz, Arcebispo da Metropolitano da Paraíba
A Igreja tem um calendário litúrgico próprio, e já estamos na reta final desse calendário. Estamos nos aproximando da Festa de Cristo Rei, que marca o final de cada ano litúrgico, nos avizinhando, portanto, das celebrações do Natal. E o que move a rotina litúrgica da Igreja? É o mistério da Morte e Ressurreição de Nosso Senhor. A vida de Cristo é o grande farol que nos motiva a caminhar para Deus. A Palavra de Deus, que é fonte desse caminhar para os cristãos, nos oferece o caminho da fé. Pertencemos à família de Deus. Não há outro caminho capaz de nos trazer a verdadeira felicidade. Foi isto que celebramos, recentemente, na festa litúrgica de todos os santos.
No encontro diário com a Palavra de Deus, é inevitável o feliz encontro com os irmãos. Não existe caminho para Deus sem estar de mãos dadas com os nossos irmãos! A Palavra de Deus sempre nos convoca ao amor a Deus traduzido no amor imediato dos irmãos. O amor ao próximo é condição fundamental para o amor que devemos a Deus. E quando não conseguimos amar os que nos são pesados?! Será que estaríamos falhando no nosso amor a Deus? A pessoa humana sempre é capaz de fazer contínuos progressos, mas as vezes nos deparamos com grandes dificuldades em acolher a quem nos tenha feito algum mal. Mas a quem podemos considerar nossos inimigos? O Papa Francisco nos responde: “Inimigos são também aqueles que falam mal de nós, que nos caluniam e nos enganam. Não é fácil digerir isso. A todos eles, somos chamados a responder com o bem, que também tem as suas estratégias, inspiradas pelo amor”. Na superação desse desconforto, temos diante dos olhos a meta da vida cristã: Deus. Se não for assim, nos perderemos em nós mesmos e sucumbiremos no meio do caminho. Devemos avançar, a avançar com Deus e com os irmãos.
O Evangelho de Nosso Senhor, incansavelmente, nos colocará diante da estratégia da bondade como resposta aos nossos inimigos, pois “a ninguém deu licença de pecar” (Eclo 15,21). Vivemos em contextos sociais marcados pela impaciência e intolerância com quem pensa diferente, não estamos mais dispostos a esperar o tempo de crescimento do outro. Contudo, a partir de uma leitura atenta da vida de Jesus percebemos o quanto a bondade e a paciência são costumes necessários para estabelecer relações fraternas. A fraternidade não é somente uma atitude universal, mas é uma consequência de quem busca viver o Evangelho como medida nas relações.
O amor que devemos aos nossos inimigos deve ser acompanhado de oração. Buscamos perdoá-los porque somos filhos do mesmo Pai. O nosso Pai que está nos céus. E só por meio da oração que o perdão se torna uma realidade concreta, sem aquela, só nos limitaríamos a firmar pactos de boa convivência. Amar os inimigos não é se ocupar desse tipo de pacto, mas tê-los, os que nos fizeram algum tipo de mal, em conta em nossos corações e orações, ainda que nos seja bastante difícil. Quando não conseguirmos amar dessa forma, façamos a experiência de trazer à memória o momento da cruz de Jesus. Lá no Calvário, Ele amou a todos, amou os pecadores, os santos, os hipócritas, e amou os seus inimigos imediatos que o crucificaram. A fé cristã é exigente, ela sempre nos pedirá o compromisso com a caridade, com o amor que se dá até o fim, ainda que julguemos que nossos inimigos não o mereça. Quem se aproxima da mesa da Palavra e da Eucaristia, não pode permanecer estranho aos irmãos; não podemos tratá-los como inimigos, mas como irmãos em Cristo.
Que a Eucaristia que celebramos em nossas comunidades paróquias nos ajude a acolher o mistério da vida de Jesus que sempre nos colocará na solidariedade com os irmãos amáveis e não amáveis.