É esta a mensagem de fundo da parábola da figueira estéril, que já não dava mais fruto (Lc 13,1-9). O dono já tomara a decisão de arrancá-la “pois estava ocupando inutilmente a terra”. A motivação da sentença é dura tanto quanto o golpe de machado que daria fim àquela infrutífera árvore. Mas entra em cena uma personagem que impetra um recurso. É o agricultor apaixonado pela vida. Ele, com certeza, já viu plantas ressequidas recuperarem seu vigor e voltarem a dar fruto graças à sua paciência, seus incansáveis cuidados e sua sólida esperança. “Senhor – ousa dizer ao dono -, deixa-a ainda este ano, para que eu cuide dela e a adube com muito amor; se der fruto, ficará e, se não, depois a mandarás cortar”.
O agricultor sabe que uma boa dose de cuidado pode fazer a diferença. É isso que está faltando. Não se trata de dar um tempo ou uma simples chance. Trata-se de dar a CHANCE… de ser cuidado para que tenha condições de recuperar sua vida e cuidar com amor da vida dos outros brindando-os com os frutos de suas boas obras. O agricultor pede tempo. Não se trata do tempo como “chronos” que transcorre minuto a minuto, dia a dia, e do qual podemos ter o controle mediante o relógio, o calendário ou a agenda; o chronos é o tempo quantitativo, e é ele que mais determina nossa vida. O agricultor está pedindo o tempo como “kairós”, que pode ser entendido como oportunidade, conjuntura especial que acontece no Chronos, mas que tem a virtude de transformar a vida, de dar dimensões novas à experiência da cotidianidade; o kairós não leva em consideração o número de dias ou de anos, e sim, como estes dias e estes anos são vividos e aproveitados para fazer crescer e dar bons frutos (Nota da Bíblia Edição Ave Maria). O agricultor, ao solicitar o prazo de um ano, não está falando de 365 dias, mas do ANO da Graça do Senhor (Lc 4,16-19) que Jesus veio inaugurar e que termina quando todas as pessoas forem colocadas a salvo. Como diz o apóstolo Pedro, “O Senhor não tarda a cumprir sua promessa, como pensam alguns, achando que demora. Ele está usando de paciência para convosco. Pois não deseja que alguém se perca. Ao contrário, quer que todos venham a converter-se” (2Pd, 3,8-14). Vem Senhor Jesus. Cuida de nós e ensina-nos a cuidar dos outr@s com pacientes agricultores. Afinal, como ensina Sant’Agostinho: “Quem ajuda a salvar uma alma, garante a salvação da sua”. Obrigado a todas as pessoas que, através das Pastorais Sociais, mesmo encarando incompreensões e perseguições, cuidam incansavelmente das vidas “descartadas” para sua efetiva inclusão na comunidade e na sociedade. Bom e abençoado dia. (Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)
“Não tem mais jeito!” é o rótulo que colamos na testa daqueles que nós, do alto de nossos preconceitos, sentenciamos como irrecuperáveis. É um ponto final que impomos à vida de pessoas, quase sempre jovens empobrecidos, pretos e periféricos, que nasceram e cresceram em contextos marcados por profundas iniquidades socioeconômicas e violações dos direitos fundamentais. Foi-lhes garantido o direito de nascer, mas, desde sempre, foi-lhes abortado o direito a viver e permanecer no mundo como gente, isto é, como pessoas acolhidas, amadas, cuidadas e respeitadas. No dicionário da misericórdia de Deus, a palavra “irrecuperável’ não existe. “Não há pecado em que caímos do qual, com a graça de Deus, não podemos nos reerguer”, diz papa Francisco. A palavra “irrecuperável” faz parte do dicionário da nossa incompetência, da nossa indiferença e da nossa preguiça. Quando não sabemos o que fazer, quando não nos interessa fazer e quando não estamos a fim de fazer, arquivamos vidas carimbando-as como “definitivamente perdidas”. Todo ser humano tem direito a um crédito de confiança. É inerente à essência humana e, sobretudo cristã, a crença na mudança das pessoas, na capacidade de se redimir do mal, do mal sofrido, mas também do mal praticado. Em 38 anos de caminhada, tenho testemunhado belíssimos percursos de mudança e conversão. Ninguém é irrecuperável. Não se trata de passar a mão na cabeça de ninguém nem de oferecer álibis para as pessoas se safarem de suas responsabilidades. O mal é sempre intolerável. Qualquer maldade cometida deve sempre ser devidamente repreendida. Mas o autor pode ser compreendido. Compreender não é justificar, mas é sondar para entender e elaborar o itinerário melhor para o responsável conseguir ressignificar sua vida e voltar ao convívio social restabelecido. Como diz o padre Ciotti, há anos empenhado na Itália na recuperação de pessoas, “é necessário recordar as responsabilidades e estimular as crises de consciência, ao mesmo tempo em que são delineadas as oportunidades oferecidas por uma mudança radical de vida não só em termos de vantagens materiais, mas de liberdade interior, a possibilidade de viver uma vida mais livre porque é mais justa e verdadeira. Claro que não é fácil, e precisamente no mundo da criminalidade organizada as conversões podem ser contadas nos dedos de uma mão. Mas acho que temos que tentar”. É evidente que, a conversão é mais possível quando proporcionamos às pessoas o encontro com Cristo. A contato com Ele e com a ajuda da graça divina, aquilo que parece humanamente impossível, torna-se possível pela mão de Deus. A misericórdia de Deus regenera. Faz novas todas as coisas.
É esta a mensagem de fundo da parábola da figueira estéril, que já não dava mais fruto (Lc 13,1-9). O dono já tomara a decisão de arrancá-la “pois estava ocupando inutilmente a terra”. A motivação da sentença é dura tanto quanto o golpe de machado que daria fim àquela infrutífera árvore. Mas subentra uma personagem que impetra um recurso. É o agricultor apaixonado pela vida. Ele, com certeza, já viu plantas ressequidas recuperarem seu vigor e voltarem a dar fruto graças à sua paciência, seus incansáveis cuidados e sua sólida esperança. “Senhor – ousa dizer ao dono -, deixa-a ainda este ano, para que eu cuide dela e a adube com muito amor; se der fruto, ficará e, se não, depois a mandarás cortar”.
O agricultor sabe que uma boa dose de cuidado pode fazer a diferença. É isso que está faltando. Não se trata de dar um tempo ou uma simples chance. Trata-se de dar a CHANCE… de ser cuidado para que tenha condições de recuperar sua vida e cuidar com amor da vida dos outros brindando-os com os frutos de suas boas obras. O agricultor pede tempo. Não se trata do tempo como “chronos” que transcorre minuto a minuto, dia a dia, e do qual podemos ter o controle mediante o relógio, o calendário ou a agenda; o chronos é o tempo quantitativo, e é ele que mais determina nossa vida. O agricultor está pedindo o tempo como “kairós”, que pode ser entendido como oportunidade, conjuntura especial que acontece no Chronos, mas que tem a virtude de transformar a vida, de dar dimensões novas à experiência da cotidianidade; o kairós não leva em consideração o número de dias ou de anos, e sim, como estes dias e estes anos são vividos e aproveitados para fazer crescer e dar bons frutos (Nota da Bíblia Edição Ave Maria). Aplicando esta reflexão aos nossos dias, o evangelho nos ensina que o tempo decisivo na recuperação de uma pessoa não é o quantitativo, mas o qualitativo. O aspecto mais importante não é a duração da pena, mas o que se faz, como se faz e porque se faz durante o período de cumprimento da pena. O agricultor, ao solicitar o prazo de um ano, não está falando de 365 dias, mas do ANO da Graça do Senhor (Lc 4,16-19) que Jesus veio inaugurar e que termina quando todas as pessoas forem colocadas a salvo. Como diz o apóstolo Pedro, “O Senhor não tarda a cumprir sua promessa, como pensam alguns, achando que demora. Ele está usando de paciência para convosco. Pois não deseja que alguém se perca. Ao contrário, quer que todos venham a converter-se” (2Pd, 3,8-14). Vem Senhor Jesus. Cuida de nós e ensina-nos a cuidar dos outros com pacientes agricultores. Afinal, como ensina Sant’Agostinho: “Quem ajuda a salvar uma alma, garante a salvação da sua”. Bom e abençoado dia. Obrigado a todas as pessoas que, através das Pastorais Sociais, mesmo encarando incompreensões e perseguições, cuidam incansavelmente das vidas “descartadas” para sua efetiva inclusão na comunidade e na sociedade. Bom e abençoado dia.
Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano