Dom Manoel Delson Pedreira da Cruz, arcebispo metropolitano da Paraíba.
A Palavra de Deus apresenta, neste domingo, a imagem do campo da semeadura. Nosso Senhor nos conta duas parábolas para nos ensinar sobre o mistério da Palavra e do Reino de Deus no meio dos homens e mulheres, de todos os tempos e lugares. Trata-se das parábolas da semente que cresce por si só e a do grão de mostarda.
Tais ensinamentos encontram-se narrados no Evangelho de São Marcos 4,26-34. São mensagens que nos fazem meditar também sobre as razões da esperança que brota do caminho da fé e do amor.
O homem, porque confia em Deus, semeia com a real confiança de que o seu trabalho não será em vão. Contudo, é Deus o “Senhor do Reino, o homem é o seu colaborador humilde, que contempla e rejubila com a obra criadora divina e dela espera pacientemente os frutos” (Papa Bento XVI). Esse plantio diz sobre o processo de conversão que nos toca no seguimento de Jesus Cristo. O que precisamos fazer? Abrir o coração e colocar-se no paciente caminho da fé. Fé esta, que sempre nos dará frutos abundantes, como nos explica o Papa Francisco: “Mas Jesus, o ‘bom semeador’, não se cansa de semear generosamente (…) espera sempre que possamos dar frutos abundantes”.
A medida da Palavra de Deus educa-nos para a esperança. O homem planta na esperança de que colherá bons frutos. A cultura dessa esperança deve nos educar a colocar Deus como medida de tudo, não podemos ter a nós mesmos como metro de medida, agindo como se fôssemos o senhor das coisas. Deus é o Senhor de tudo. É Ele quem faz cresce o fruto da terra.
Tudo o que Deus faz no coração do homem tem consequência social. A conversão é um caminho que também muda os outros, o mundo. E um dos frutos do coração humano é a bondade para com todos. Agimos com bondade porque Deus mesmo fez-Se constante bondade. Ser bom não é somente fruto de nossos esforços, mas somos praticantes da bondade porque antes de tudo nos veio a graça de Deus. Ela opera em nós e não devemos desconsiderá-la.
O mal que ronda nossa alma desenvolveu-se na história como um rio sujo, que envenena a geografia da história dos homens. Caminharemos lutando contra o mal até o nosso último suspiro. O nosso Papa tem uma palavra muito forte no que diz respeito ao obrigatório fechamento do coração para o mal: “O diabo é um sedutor. Nunca dialogar com ele porque ele é mais esperto do que nós, e nos fará pagar. Quando vem uma tentação, não dialogar nunca, mas fechar a porta, fechar a janela, fechar o coração e assim nos defendemos dessa sedução, porque o diabo é astuto, é inteligente”. A pessoa humana sempre carrega o desejo de fazer o bem. Mas sobre o mundo e o nosso coração, cerca-nos o mistério da iniquidade. Esse mistério dito pela Palavra de Deus continua misterioso, ele não se explica pela lógica, só Deus e o bem são lógicos, são luz. Mas cabe-nos, com o exemplo de decididos cristãos, continuar a acreditar que podemos construir um mundo marcado pela justiça e paz. Não podemos ser arautos da reclamação enfadonha, de achar que nada vai mudar. O melhor remédio para a maldade que nos rodeia é a bondade e esperança gratuitas.
Enchamo-nos das sementes que são lançadas das mãos do Divino Semeador. Deixemos que a força da Palavra de Deus torne, a cada dia, o nosso coração em uma terra boa capaz de receber e fazer frutificar, silenciosamente, as sementes do Evangelho.
Que a Virgem Maria, Mãe e Mestra da Palavra de Deus, nos ensine a ser uma terra boa para o Senhor.