A Igreja, aqui no Brasil, celebra neste domingo a grande solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo; essa festa nos coloca diante da necessária fidelidade que nos propõe o Evangelho de Nosso Senhor. O chamado apostólico passou pelo total comprometimento de homens que foram capazes de derramar o próprio sangue por causa de Cristo. Faz parte do DNA dos apóstolos a entrega irrevogável de suas vidas.
A perseguição religiosa sempre acompanhou a história da Igreja no mundo, mas vale lembrar que, a resposta dos cristãos sempre partiu do amor. Não somos chamados a uma ingênua presença no mundo, mas existe uma resposta de amor que sabe suportar a prova e até mesmo a disponibilidade do martírio. A exigência evangélica da fidelidade comporta necessariamente os perigos das provas. Não há fidelidade a Cristo sem essa disposição comprometedora da própria vida.
Na passagem do Evangelho de São Mateus 16, 16-19, Pedro nos revela sua confissão de fé em Jesus, acolhe-O como Messias e Filho de Deus; tal confissão é solidária, ele faz também em nome do grupo dos apóstolos. O nosso apóstolo é apresentado como rocha, ele não se autodenomina assim, mas recebe essa missão do próprio Senhor. Esta confissão de Pedro, que diz que o Senhor é o Messias, não foi mérito de um conhecimento humano, mas veio de Deus. Ele carrega a missão especial de conduzir a Igreja de Cristo, chamado a governá-la com o serviço da caridade.
A missão de Pedro continua na história com o serviço prestado pelo Papa. O papado é um dom para a humanidade, Deus escolhe homens fracos para manifestar sua força e desconcertar a lógica soberba das sociedades, marcadamente secularizadas, que a tanto custo tentam expulsar Deus para a margem da existência humana. Agem, lamentavelmente, como se Deus fosse inimigo dos homens e mulheres. Nosso testemunho cristão deve declarar que Deus é o centro, de que existimos no amor Dele. A fidelidade cristã sustenta-se na fidelidade de Cristo, e esta cresce em nosso meio mediante uma resposta de fé viva e forte que somos chamados a dar também nos momentos difíceis de nossas vidas.
E Paulo? O testemunho das Sagradas Escrituras o apresenta como um homem cheio de ardor pela evangelização. Faz da sua vida, depois de encontrar o Senhor Ressuscitado na estrada de Damasco, um pleno serviço em favor dos homens e mulheres. Paulo é modelo de um amor apaixonado por Cristo que transborda na evangelização de todos os povos. O apóstolo das gentes não se poupou, não reteve sua vida, mas foi até às últimas consequências do martírio. Não teve receio de oferecer-se aos homens em favor do anúncio explicito do Evangelho de Cristo. A iconografia tradicional apresenta São Paulo com a espada, e sabemos que esta representa o instrumento do seu martírio. Mas, repassando os escritos do Apóstolo dos gentios, descobrimos que a imagem da espada se refere a toda a sua missão de evangelizador. Por exemplo, quando já sentia aproximar-se a morte, escreve a Timóteo: “Combati o bom combate” (2 Tm 4, 7); aqui não se trata seguramente do combate de um comandante, mas de um homem que se tornou instrumento da Palavra de Deus. Paulo foi fiel a Cristo e à sua Igreja, por quem se consumou totalmente.
O caminho da fé, tão fortemente trilhado por Pedro e Paulo, coloca-nos diante da pergunta fundamental: “quem é Jesus?” Não podemos pretender respondê-la de maneira meramente intelectual. Essa pergunta deve ser respondida através do caminho da fé. O papa comentando sobre o como devemos responder quem é Jesus, nos diz: “não se responde com uma religiosidade intimista, que nos deixa tranquilos sem fomentar em nós a inquietação de levar o Evangelho aos outros. O Apóstolo (Paulo) ensina que tanto mais crescemos na fé e no conhecimento do mistério de Cristo, quanto mais formos seus arautos e testemunhas. E isto acontece sempre: quando evangelizamos, ficamos evangelizados. É experiência de todos os dias: quando evangelizamos, ficamos evangelizados. A Palavra, que levamos aos outros, regressa a nós numa medida maior do que a usada para a oferecer (cf. Lc 6, 38). E também hoje a Igreja tem necessidade disto: de colocar o anúncio no centro, de ser uma Igreja que não se cansa de repetir, ‘para mim, viver é Cristo’ e ‘ai de mim se eu não evangelizar’. Uma Igreja que precisa de anunciar, como necessita de oxigênio para respirar, que não pode viver sem transmitir o abraço do amor de Deus e a alegria do Evangelho”.
Peçamos ao Bom Deus que sempre nos conceda a fidelidade desses dois grandes apóstolos da fé e que aumente no seio da Igreja o urgente ardor pela evangelização de todos os homens e mulheres que ainda desconhecem o amor de Cristo.