As alegrias da Páscoa do Senhor são precedidas pelo longo tempo de preparação da Quaresma. Esse oportuno tempo de preparação e purificação tem início com a quarta-feira de cinzas. Através do rito de cinzas, retomamos como todos os anos o caminho interior de conversão; somos animados por um espírito mais intenso de oração, penitência e jejum.
Nas palavras do Papa Francisco, a Quaresma é “um tempo propício para nos prepararmos para celebrar, de coração renovado, o grande mistério da Morte e Ressurreição de Jesus, cerne da vida cristã pessoal e comunitária. Com a mente e o coração, devemos voltar continuamente a este mistério. Com efeito, o mesmo não cessa de crescer em nós na medida em que nos deixarmos envolver pelo seu dinamismo espiritual e aderirmos a ele com uma resposta livre e generosa.”
A Igreja nos ensina que o tempo quaresmal é um tempo especial de escuta do Senhor, da Sua Palavra. Acolhendo a Palavra de Deus e todos os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, durante esse tempo penitencial, nos levará ao fruto da conversão: “Quanto mais nos deixarmos envolver pela sua Palavra, tanto mais conseguiremos experimentar a sua misericórdia gratuita por nós. Portanto não deixemos passar em vão este tempo de graça, na presunçosa ilusão de sermos nós o dono dos tempos e modos da nossa conversão a Ele.” (Papa Francisco). A Páscoa desabrochará na vida de cada um, como tempo da ressurreição e da plenitude da vida.
Um gesto concreto e de caridade da Quaresma na Igreja do Brasil é a vivência da Campanha da Fraternidade. O tema deste ano é Fraternidade e fome. Um dos objetivos da Campanha é despertar o espírito comunitário e cristão na caminhada do povo de Deus, nas mais diversas dioceses do nosso Brasil. O caminho da fé cristã não está separado do compromisso por uma sociedade mais justa e solidária. Ao contrário, tudo que toca à realidade humana diz respeito ao compromisso social da fé. O problema da fome é corrente, lamentavelmente, em nosso país. Entra governo e sai governo, e sempre estamos batendo de frente com essa problemática que fere a dignidade dos mais pobres.
A conversão do nosso coração traz exigências sociais. Não podemos amar a Deus sem amar concretamente o nosso irmão. Seria uma fé inoperante e infrutífera. O compromisso de socorrer os mais pobres passa pelo inevitável caminho da solidariedade e fraternidade: “nenhum compromisso ou negociação, por quanto legítima que ela seja, poderá garantir a necessária segurança alimentar para cada população e comunidade sem a solidariedade e a autentica fraternidade” (Papa Bento XVI). Quando realmente nos convertemos ao Senhor, Ele mesmo nos leva ao socorro dos nossos irmãos, nos constituindo bons samaritanos para as dores e os sofrimentos dos homens e mulheres deste tempo.
O clima quaresmal nos coloca diante de um caminho real de conversão. Não podemos viver a Quaresma de qualquer forma, descomprometidos com Deus e com os irmãos. Esse caminho nos ajuda a redescobrir o dom da fé recebida com o Batismo, colocando-nos também diante da exigência de uma vida reconciliada com Deus, através do Sacramento da Penitencia. Deus não quer a morte do pecador, mas o chama à vida. O Senhor nos oferece sua misericórdia mediante um compromisso claro de conversão.
Não nos esqueçamos que a conversão é antes de tudo uma graça. Não é fruto da força do braço humano. A graça de Deus pode transformar profundamente o coração humano. O que precisamos fazer? Abrir o coração à graça, deixar-nos mover interiormente pelo constante amor de Deus, que nunca desiste de nós.
O caminho de conversão é um caminho solitário e triste. Pois acreditamos, a fé nos garante, que a única alegria que cumula o coração de cada homem e mulher é aquela que nasce do coração de Deus. Trata-se de uma alegria eterna. A oração, tão motivada nesse tempo penitencial, alimenta a amizade do pecador arrependido com Deus. E quando estamos imersos na oração, nenhuma preocupação cotidiana consegue apagar a alegria, pois estamos firmados em Deus.
Façamos desse caminho quaresmal uma oportunidade sincera de volta para o Senhor. Ele já venceu o nosso pecado e a nossa morte. Ele, o Cristo Salvador, nos oferece suas mãos bondosas a nos conduzir nos desertos da vida. O Senhor caminha conosco! A cruz de Cristo que se coloca diante dos nossos olhos não é sinal de desânimo e desesperança, mas significa a força que precisamos para retornar para o Senhor Ressuscitado e para o cuidado de nossos irmãos. Unamo-nos ao caminho de fé da Virgem, Mãe de Misericórdia, para que em tudo correspondamos ao amor de Deus, amor que nunca nos falta. Um santo e fecundo tempo penitencial!