O encontro com o Senhor Ressuscitado gera em nossas vidas o providencial dom da misericórdia. Somos mergulhados na vida de Deus. Dentro do Tempo Pascal, a Igreja celebra no segundo domingo, o Domingo da Misericórdia. Sem esta, nenhum homem e mulher poderia receber a vida nova. São João Paulo II compreendia a misericórdia como uma realidade prodigiosa pronta a mudar radicalmente o destino da humanidade: “É um prodígio em que se abre em plenitude o amor do Pai que, pela nossa redenção, não se poupa nem sequer perante o sacrifício do seu Filho unigênito.”
A palavra “misericórdia” resume o mistério da Ressurreição de Cristo. O homem encontra o seu verdadeiro humanismo quando se deixa revestir pela luz da verdade, de uma vida autentica, marcada pelo perdão de Nosso Senhor. Nossa cultura necessita redescobrir o poder da misericórdia; e mais, tem urgência em acolher novamente esse movimento misericordioso do coração de Deus que impõe limite sobre o mal. E que a misericórdia não seja algo abstrato ou que tenha apenas uma mão única, ou seja, quando esperamos sempre a benevolência misericordiosa de Deus para nós, mas não a entregamos a um irmão. Clamar por misericórdia também nos coloca na condição de sermos misericordiosos. E este movimento, impulsionado pela ação evangélica transformadora, é capaz de transformar o mundo a partir da nossa vivência particular, que se espalha e vai atingindo as pessoas próximas, como uma grande corrente de amor através do testemunho.
Depois que Jesus ressuscita, um de seus primeiros atos é a comunicação da Sua Paz: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”(Jo 20,21). Os discípulos são inseridos na paz de Deus. Esta nunca foi uma quietude comodista, que não leva ao encontro das dores da humanidade: A Misericórdia é a veste de luz que o Senhor nos concedeu no dia do nosso Batismo. Cabe-nos o dever de não deixar que esta luz se apague; ao contrário, ela deve crescer em nós todos em todos os momentos de nossas vidas. A nossa reconciliação com Deus, com a Sua Paz, sempre nos permitirá estar com os irmãos. Ao receber o perdão do Senhor, tornamo-nos embaixadores de Sua misericórdia, e esse apostolado dá-se eficazmente quando somos capazes de um envolvimento profundo com todos aqueles que nem mais confiam no perdão de Deus. Muitos destes já se desesperam da salvação, já não acreditam mais que Deus pode perdoar qualquer pecado, desde que estejamos verdadeiramente arrependidos.
A bondade do Senhor, que cerca e penetra a escuridão do mundo, sempre ampara-nos quando estamos caídos. Até no lugar que caímos, o Senhor nos ama. Ele já se tornou nosso amigo, desde o dia do nosso batismo. Cercou-nos com laços profundos de misericórdia. A Páscoa de Cristo conta-nos essa história de amor: Deus ama-nos sempre! Ele quer nos dar inteiramente o Seu Coração cheio de bondade: “Entender a misericórdia do Senhor é um mistério; mas o maior mistério, o mais belo, é o coração de Deus. Se quiser realmente chegar ao coração de Deus, siga o caminho da misericórdia, e se deixe tratar com misericórdia” (Papa Francisco).
Que vivamos este tempo Pascal cada dia mais conscientes do amor misericordioso de Deus. Que a quaresma vivida tenha nos ajudado a viver a conversão. E que a nossa conversão seja capaz de transformar o mundo!
Dom Frei Manoel Delson