Dentro da programação da Quaresma, a Igreja propõe-se a meditar sobre a Transfiguração de Jesus. O Divino Mestre sobe ao monte para rezar juntamente com alguns de seus apóstolos, Pedro, Tiago e João. Durante o período quaresmal também somos levados àquela subida, toca-nos o necessário dever de estar com o Senhor na montanha, por meio da oração e dos sacramentos. Lemos no Evangelho da Transfiguração a conversação de Jesus com Moisés e Elias: ”Eles apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a morte, que Jesus iria sofrer em Jerusalém” (Lc 9,31).
No episódio da Transfiguração, abre-nos o entendimento do fim terreno de Jesus, ele irá morrer e ressuscitar. Contudo, Ele não teme, mas busca estar em profunda comunhão com o Seu Pai na oração. O Filho de Deus sabe que todo apostolado, e, até mesmo todo compromisso com a caridade entre os homens, devem ser precedidos pelo compromisso com a oração em primeiro lugar, caso contrário, o Seu apostolado não passaria de um ativismo pastoral. A oração cristã tem a justa medida da solidão com Deus e a justa medida do movimento missionário, do estar com os irmãos, levando a estes, o mesmo amor que recebemos do Senhor.
Ao subir com o Senhor no monte da oração, aprendemos a não evadir da realidade que nos cerca, mas, cheios da força do Ressuscitado que não fugiu da cruz, enfrentamos os desafios ordinários e, como discípulos e missionários, assumimos o nosso lugar no mundo: “Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz, dia após dia, e siga-me” (Lc 9,23). Jesus ouve a Lei e os Profetas que lhe falam da Sua Morte e Ressurreição. De Jesus, no Monte da Transfiguração, emana “uma luz que é ‘a luz da esperança, a luz para atravessar as trevas’” (Papa Francisco).
A vida cristã exige uma aproximação com a cruz de Jesus. Esta não é sinal de derrota, mas lugar seguro de nossa salvação. O verdadeiro cristão não foge da cruz, mas a abraça! Contudo, sabemos que os sofrimentos podem nos afastar de Deus, principalmente, quando detemos nosso olhar somente para as dores da vida. O grande convite que o tempo quaresmal nos faz é o de olhar firmemente para o peito dilacerado de Jesus na cruz: “A partir daquele olhar o cristão encontra o caminho do seu viver e amar” (Deus Caritas est, n.12). Esse olhar só é possível quando enchemos nosso coração com a oração que não multiplica as palavras (Mt, 6,7), mas que se reveste da caridade que outra coisa não sabe fazer a não ser: dobrar-se a Deus e aos irmãos.
Que a serena oração que brota das mãos caridosas de Maria, nos ajude a encher o mundo que habitamos dos mais altos compromissos com a justiça social e a fraternidade. Que os grandes frutos quaresmais, a partir da nossa coerência de vida, fecundados na oração, possam ajudar o mundo a encher-se da esperança que não engana e que transforma o inimigo em irmão!
Dom Frei Manoel Delson