O Papa Francisco, por diversas vezes, nos pede o esforço da cultura do encontro pelo caminho da bondade: “Não é fácil fazer o bem, devemos aprendê-lo sempre. E Ele – o Senhor – nos ensina. Mas aprendam como as crianças. No caminho da vida, da vida cristã, se aprende todos os dias. Deve-se aprender todos os dias a fazer algo, a ser melhores do que o dia anterior. A palavra é essa: aprender.” Muito sabemos da existência de sociedades que cultuam a cultura da vingança velada. Para muitos, faz mais sentido pagar o mal com o mal, como se esta prática fosse aliviar o sofrimento causado por alguém. As páginas do Evangelho de Jesus nos ensinam que o mal deve ser combatido com o esforço da caridade: “Não resistais ao homem mau; antes, àquele que te fere na face direita oferece-lhe também a esquerda” (Mt 5,39). Nossa profissão de fé não deve caminhar para o rumo contrário do caminho da bondade. Os cristãos devem assumir o compromisso de realizar o bem em tudo, permanecendo sempre próximos dos homens, nas suas alegrias e nos momentos sombrios da existência humana. Neste contexto de pandemia, o empenho dos cristãos deve ser uma espécie de estandarte a mostrar que a bondade deve prevalecer sempre. Não podemos dar largas à mesquinhez e ao egoísmo. Não resistamos à bondade Deus, que sempre vence o mal. Deus é Bom sempre e nos avizinha de Sua bondade em qualquer circunstância de nossas vidas.
A cultura da bondade deve nos educar a colocar Deus como medida de tudo, não podemos ter a nós mesmos como metro de medida, agindo como se fôssemos o senhor das coisas. Agimos com bondade porque Deus mesmo fez-Se constante bondade. Ser bom não é somente fruto de nossos esforços, mas somos praticantes da bondade porque antes de tudo nos veio a graça de Deus. Ela opera em nós e não devemos desconsiderá-la.
O mal que ronda nossa alma desenvolveu-se na história como um rio sujo, que envenena a geografia da história dos homens. Este fato nos coloca diante de profundas contradições, mas também aponta para o desejo de redenção que é mais forte que o diabo. A pessoa humana sempre carrega o desejo de fazer o bem; na política, muitos apoiam-se no discurso de mudar as estruturas, mesmo quando vemos muitos afundando o país num mar de corrupção estruturante. O mistério da iniquidade continua misterioso, ele não se explica pela lógica, só Deus e o bem são lógicos, são luz. Mas cabe-nos, com o exemplo de bons cristãos, continuar a acreditar que podemos construir um mundo marcado pela justiça e paz. Não podemos ser arautos da reclamação enfadonha, de achar que nada vai mudar. O melhor remédio para a maldade que nos rodeia é a bondade gratuita. “Cristo crucificado e ressuscitado, novo Adão, opõe ao rio sujo do mal um rio de luz. E este rio está presente na história: vemos os santos, os grandes santos, mas também os santos humildes, os simples fiéis. Vemos que o rio de luz que procede de Cristo está presente, é forte”(Papa Emérito Bento XVI). Permitamo-nos envolver concretamente pelo remédio da bondade, para que sejamos como luzeiros em espaços sombrios que estão viciados pelo ranço da vingança. Que a oração bondosa da Virgem Maria nos acompanhe em todos os momentos. Que sejamos mensageiros da mesma bondade que ocupou as atitudes da Mãe de Deus, atitudes que promovem o bem na vida dos outros.
Dom Frei Manoel Delson
Arcebispo da Paraíba