A Liturgia da Palavra proclamada em nossas igrejas neste Domingo nos faz escutar uma forte e atual realidade que nos permeia: Deus não quer a nossa morte! Deus nos criou para a imortalidade, ainda que nos acostumemos com esta vida. E quem é o causador da morte? A própria Liturgia da Palavra já nos oferece a resposta: o diabo.
Neste Domingo, o evangelista São Marcos nos coloca diante da narração de duas curas milagrosas realizadas por Nosso Senhor a favor de duas mulheres: a filha de um dos chefes da Sinagoga, que se chama Jairo, e uma mulher que padecia com o sofrimento de hemorragia (Cf. Mc 5,21-43). Jesus que é o Filho de Deus se compadece dessas mulheres e se propõe a curá-las; uma é curada fisicamente e a outra na alma. E qual a grande mensagem da cura realizada por Jesus, seja ela física ou espiritual? Curar-nos por inteiro, Jesus veio para socorrer o coração humano, e o faz curando-o. A pedagogia da cura é sempre um aprofundamento do caminho da fé. Somos curados em vista da nossa salvação, e não somente para aliviar o sofrimento em si. Eis aqui um sinal concreto de que Deus não concorda com a morte do pecador.
No primeiro episódio da narrativa de cura, quando Jairo, chefe da Sinagoga, recebe a noticia da morte de sua filha, Jesus imediatamente proclama sobre aquele homem e sua filha o sopro da vida, dizendo: “Não tenhais medo, crê somente” (Mc 5,36). A fé no Filho de Deus cria uma superação imensa diante de qualquer tipo de morte. Jairo tem um coração tão inclinado à fé em Jesus que, mesmo sofrível, diz com esperança: “Vem e põe as mãos sobre ela, para que ela sare e viva!” (Mc 5,23). Esse pedido do pai aflito é o que a Igreja já realiza pela eficácia dos Sacramentos. O próprio sacramento da unção dos enfermos é Deus nos tocando com sua mão curativa. O óleo posto sobre nosso corpo, junto com o dom da fé do doente e da Igreja, realiza a cura total do nosso ser.
Deus jamais poderia ficar indiferente ao sofrimento da humanidade. “Jesus que presta atenção ao sofrimento humano faz-nos pensar também em quantos ajudam os doentes, em especial os médicos, os agentes da saúde e aqueles que garantem a assistência religiosa nas casas de cura. Eles são ‘reservas de amor’, que dão serenidade e esperança aos sofredores” (Papa Bento XVI). Neste tempo de pandemia, vemos explicitamente o quanto tem sido fundamental o ‘sacerdócio’, ou seja, o serviço assumido pelos profissionais da saúde para auxiliar na cura física de tantos irmãos que lutam pela vida. Os profissionais de saúde tem sido realmente essas reservas de amor, esses canais e mãos de Deus em favor da vida. Podemos afirmar que eles, junto com as mãos de muitos sacerdotes, são a continuidade da Mão do Divino Médico a curar e aliviar o sofrimento do corpo. “Vem e põe as mãos” tem sido o recorrente pedido da humanidade presente a Deus, neste tempo tão doloroso da Pandemia.
Dom Frei Manoel Delson
Arcebispo da Paraíba