A experiência com a Misericórdia de Deus “batiza-nos” na confiança, colocando diante dos nossos olhos aquela antiga e tão nova mensagem: Deus não deixa ninguém para trás. Seu amor é bom, eterno e dura para sempre, como canta o salmo 107. Agora, essa misericórdia que a recebemos no dia do Batismo, não nos torna somente como os únicos beneficiários dela, mas nos convida a sermos misericórdia para os outros, como nos pediu o Santo Padre no último Domingo da Misericórdia.
Todos nós, um dia e debaixo da Luz da Verdade, haveremos de comparecer diante do Tribunal de Cristo, como nos assegura a Primeira Leitura deste Domingo na Liturgia (Cf. II Cor 5,10). A vida cristã é guiada pela Justiça e Misericórdia de Deus, não podemos desvincular nossas atitudes fora desses dois atributos divinos. Justiça e Verdade formam o discípulo de Jesus já aqui nesta vida. O que vai contar no anoitecer de nossas vidas quando fecharmos definitivamente nossos olhos aqui? Será a Luz da Verdade e da Misericórdia de Nosso Senhor. Em tudo, seremos vencidos pelas sua Bondade; até mesmo as nossas virtudes só serão contadas porque Ele é o Verdadeiro Virtuoso. Não há bondade humana sem o apoio exclusivo da graça de Deus!
O que nos compete diante de tanta Bondade e Misericórdia? O próprio Salmo da Liturgia deste Domingo nos dá a resposta: “Como é bom agradecermos ao Senhor” (Sl 91). Uma das atitudes mais feias que podemos ter é a ingratidão. É inadmissível e escandaloso constatar ingratidão ante o Amor Bondoso de Deus. Contudo, Deus não para diante de nossas ingratidões, mas continua a Se dá, derramando-Se generosamente em Misericórdia sobre a carne dos homens.
Acolhe efetivamente a Misericórdia de Deus quem acolhe o amor de Deus, e é neste amor que poderemos oferecer ao mundo algo novo. Estamos cansados dos transbordamentos de palavras desacompanhadas de testemunho. O cristão que renova suas atitudes no amor de Deus sabe que o mundo, ainda que silenciosamente, pode ser transformado. Não podemos viver como se o mundo estivesse caindo num grande abismo sem volta. Aqui não se trata de uma ingenuidade distraída. Não! O que acontece é que sabemos que o amor de Cristo pode mudar tudo, inclusive, o nosso coração de pedra e sem vida.
Coloquemo-nos sempre debaixo do olhar bondoso da Virgem Maria, para que o nosso empenho cristão leve sempre Jesus ao mundo, aos homens e mulheres deste tempo. Que a sua materna intercessão nos ajude a entrar na fila do ofertório da Misericórdia que atravessa a história e o tempo dos homens. Que sejamos sinais de bondade e misericórdia a tantos quantos necessitam mais uma vez enxergar o rosto de amor, justiça e misericórdia de Deus!
Dom Frei Manoel Delson Pedreira da Cruz, OFMCap
Arcebispo da Paraíba