Há sempre uma grande calmaria

O episódio narrado pelo Evangelho deste Domingo na liturgia da Igreja coloca-nos diante de duas realidades que insistem em nos provocar: a falta de fé e o medo! Estamos diante da narrativa evangélica da tempestade acalmada pelo Senhor. Jesus é o Senhor do mar! Ele acalma as tempestades de nossas vidas, Sua Palavra é a última diante do poder do mal que nos assola e nos tenta.

Para as Sagradas Escrituras, a simbologia do mar remete-nos ao poder limitado do demônio. Trata-se de um elemento que gera o caos e a ameaça. Contudo, esses danos são potencialmente possíveis, pois, na verdade, Deus sempre vence e governa a história dos homens. “O gesto solene de acalmar o mar tempestuoso é claramente um sinal do senhorio de Cristo sobre poderes negativos e leva a pensar na sua divindade.” (Papa Emérito Bento XVI)

O mundo atual assume a mesma incredulidade dos discípulos que diante da calmaria do mar perguntam entre si: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?” (Mc 4,41). A fé dos discípulos de Jesus ainda não era sólida, mas embrionária. No coração daqueles ainda existia um misto de medo e confiança; mas é o próprio Jesus quem nos ensina a não duvidar do poder de Deus. Afinal, esse poder é um poder de amor. Deus pode adormecer quando estamos prestes a sucumbir na vida, mas jamais devamos nos esquecer que estamos completamente firmes nos braços do Pai. 

E quando o medo e a falta de fé nos dominar, o que devemos fazer? Só há uma atitude que pode gerar uma confiança filial: a oração. O Papa Francisco gosta muito de repetir: “quem reza, se salva!” Não abandonemos a oração, ela nos salvará da desconfiança de que Deus dorme! Deus não dorme diante de nossas dificuldades. Ele nos oferece a pedagogia da confiança. 

O Papa ainda nos adverte amorosamente: “Com Ele a bordo, experimentaremos – como os discípulos – que não há naufrágio. Porque esta é a força de Deus: fazer resultar em bem tudo o que nos acontece, mesmo as coisas ruins. Ele serena as nossas tempestades, porque, com Deus, a vida não morre jamais.” Deixemos que a confiança filial reforce nosso coração no crescimento da fé, na fé Daquele que também Se angustiou no Calvário. Sua angustia foi por causa do peso de nossos pecados. Ele carregou sobre os ombros “o derradeiro e extremo assalto do mal contra o Filho de Deus.” (Papa Emérito Bento XVI).

Peçamos a Virgem Maria, Mãe da verdadeira fé, que acompanhe o caminhar da humanidade presente, tão sofrida com o mal da pandemia; e que Ela nos ajude a confiar em Deus, até mesmo quando a enfermidade e a morte nos rondar. Em tudo, somos amados pelo mesmo amor que gerou o Filho de Deus no ventre de Maria! Uma verdadeira fé sempre educa o coração humano na confiança absoluta em Deus, não importam as tempestades.

Dom Manoel Delson
Arcebispo da Paraíba