Aprender a amar e acolher

Este fim de semana a liturgia da Igreja nos traz a parábola do filho pródigo, tão conhecida por todos nós. Ela surge no momento em que Jesus é apontado como aquele que “acolhe os pecadores e faz refeição com eles” (cf Lc 15,2), o que incomoda fariseus e doutores da lei. A parábola fala sobre amor, perdão, misericórdia e acolhida, enfatizando o amor de Deus pela humanidade e nos chamando a atitudes semelhantes, de entrega verdadeira de acolhimento sem julgamentos.

Porém a parábola é mais profunda. O Senhor sempre traz em Suas palavras reflexões que vão além do óbvio observado num primeiro contato. O evangelho deste IV Domingo da Quaresma nos chama a refletir: quem nós somos nesta parábola? O filho que parte em devaneio, o pai que acolhe, o irmão que se sente inferiorizado? E vamos além, em personagens que parecem secundários, como os maus patrões que sequer oferecem a comida dos porcos a um servo, aquele que explora o que já está humilhado, sem chão e sem esperanças. A estes personagens podemos comparar aqueles que usam da caridade como escudo moral para criar um falso sentimento cristão de amor, quando oferta um prato de comida a um desconhecido, mas nega direitos e dignidade a quem o serve.

Os tempos difíceis que vivemos atualmente nos forçam a refletir os personagens sociais que se apresentam. Talvez em algum momento já fomos o filho pródigo, já fomos o irmão que não aceita a benevolência e põe julgamento acima do amor. Esperamos em Deus que sejamos como aquele pai amoroso, piedoso, que acolheu o filho perdido com alegria, porque este é o Pai que está no céu, que nos ama e nos acolhe mesmo diante de nossas fugas de uma vida reta. O Deus que acolhe nosso corpo fraco e nossa alma manchada pelo pecado. E é este Pai que devemos ter como inspiração para nossa caminhada cristã nessa peregrinação terrestre.

O Tempo da Quaresma é próprio para estas reflexões que nos levam ao amadurecimento da fé e ao caminho da conversão. Que possamos ir além da nossa capacidade de amar, pois ela sempre será insuficiente quando comparamos àquele que nos redimiu de todo pecado. Que a parábola do filho pródigo nos sirva de inspiração para uma sociedade onde haja menos julgamento, mais justiça, mais amor e misericórdia.

Dom Frei Manoel Delson